Nos primeiros meses de vida do(s) bebé(s), a amamentação é um processo complexo e difícil para a maioria das recém-mamãs.
Conforme referi no artigo anterior, esta fase não foi nada “cor-de-rosa” ( ou cor azul) como eu sonhei um dia: “amamentar a ouvir uma música relaxante”. Assim como nunca imaginei que teria que amamentar dois bebés em simultâneo (riso).
Recuando ao dia do parto, como estive 24h com reduzida reação e muito sonolenta devido à anestesia geral a que fui sujeita, o primeiro leite que os meus filhos conheceram foi o artificial ou de fórmula (esta denominação deve-se ao facto dos leites artificiais serem elaborados mediante fórmulas que têm como padrão o leite materno). E o biberão foi a primeira via usada para os alimentar e não o meu peito.
Quando já desperta e iniciei o processo da amamentação, não sabia posicioná-los no meu peito de forma correta, nem ajudá-los a fazer uma pega eficaz.
As enfermeiras deram-me algumas instruções, não muito bem-sucedidas na maternidade, tendo em casa mantido as mesmas dificuldades.
Em suma, eles tiveram dificuldade em começar a mamar no meu peito, e eu também não estava a conseguir ajudá-los da melhor forma por desconhecimento. Houve uns dias, após chegada a casa, que pouco ou nada se alimentaram do meu leite.
A pega era feita de forma incorreta e a sucção ineficiente. O resultado foi o aparecimento de fissuras nos mamilos (as conhecidas gretas) e o “empedramento” (ingurgitamento é o termo correto) das mamas.
Cada mamada era uma tortura, umas dores horríveis e sem grandes frutos, ou seja, o leite não escoava como devia. Eu tinha que recorrer à bomba para os alimentar com o meu leite e alternava com o leite de fórmula.
Apesar de recorrer à bomba, talvez pela inexperiência no início e pelo facto das minhas mamas estarem muito duras e cheias, precisava de horas para tirar uma quantidade razoável de leite, e com a dificuldade que os meus meninos tinham em mamar, as minhas mamas ficavam cada vez mais cheias e duras.
As mamas produziam constantemente leite, e como a quantidade que os bebés mamavam e eu conseguia tirar com a bomba eram insuficientes, não drenavam o leite suficiente.
Ganhei a temida mastite, inflamação da mama. A mastite é um processo inflamatório de um ou mais segmentos da mama muito doloroso e quanto mais avançado o estado, pior e pode passar a infeção bacteriana que, se bem me recordo, foi o meu caso. Os sintomas que tive e comuns desta patologia são dor, vermelhidão, latejamento, sensação de calor na mama, hipersensibilidade e febre.
Tive que tomar antibiótico, fazer massagens, “ordenha” (escoamento de leite manual) e colocar compressas mornas para ajudar no processo de recuperação e não permitir consequências mais graves. Neste período os bebés tinham ainda mais dificuldade em agarrar a mama pelo facto do tecido mamário estar tão duro e os mamilos mais planos devido à pele estar muito esticada, o que não facilita a recuperação.
Ainda estive numa condição aguda sensivelmente uma semana, depois os sintomas começaram lentamente a abrandar até que a mastite acabou por passar.
As massagens e “ordenha” que necessitava de fazer eram muito dolorosas pois o peito estava inflamado, rijo e dorido. A febre também me fazia sentir um mau estar geral como se estivesse com gripe e uma elevada hipersensibilidade no peito e na pele de uma forma generalizada.
Nessa fase e pelo mau estar, só me apetecia estar quietinha, sem me mexer, mas não podia! Tinha que continuar a amamentar os meus filhos apesar da condição (não esquecendo que ainda tinha as gretas nos mamilos), extrair leite com a bomba (que nesta fase era um suplício) e fazer todas as outras tarefas inerentes aos cuidados dos meus filhos, com a agravante de que o descanso era muito pouco ou nenhum.

Apesar de ter recuperado da mastite, as fissuras nos mamilos ainda permaneceram muito tempo, pelo que a tortura da amamentação perdurou uns meses.
É importante ressalvar que recorri ao serviço de apoio à amamentação do Hospital de Aveiro (“Cantinho da Amamentação”, no Serviço de Obstetrícia, Piso 2) constituído por conselheiras profissionais devidamente especializadas para dar apoio e as respostas necessárias neste campo. Este serviço foi de grande mais valia para mim neste processo, onde recebi orientações e respostas às minhas dúvidas, nomeadamente como posicionar corretamente o bebé no peito e como ajudar a que este faça uma pega eficaz. Também extraí leite com as bombas hospitalares que são muito potentes e eficazes.
Quando procurei este serviço foi numa fase de desespero devido à minha condição de saúde, e essencialmente porque via os dias a passar e os meus filhos com muita dificuldade em beber leite materno, e isto aterrorizava-me.
Recomendo vivamente este serviço às mamãs que estão a passar pelas mesmas dificuldades (não sei se o serviço se mantém, mas acredito que sim). Também tenho conhecimento que para além do médico assistente, os centros de saúde estão dotados de equipas de enfermagem e outras especializadas que podem apoiar neste processo.
Aos poucos, eu e os meus bebés fomos ganhando mais experiência e as mamadas foram sendo cada vez mais eficientes. O primeiro a fazer uma pega correta foi o meu Rubim, depois o meu Diego. Em contrapartida, o Diego mamou até mais tarde. O Diego tinha uma sucção mais forte do que o Rubim e por esse motivo, quando estava muito aflita das minhas mamas, colocava-o a mamar primeiro para me aliviar mais rapidamente.
Apesar de terem aprendido a mamar, a pega no mamilo esquerdo era mais difícil e eles preferiam o direito. A consequência dessa preferência era que a mama esquerda tinha tendência a “empedrar” com alguma facilidade, e o mamilo direito o mais massacrado. Este apresentou fissuras até tarde e quase até ao fim da amamentação.
Lembro-me que quando se aproximava a hora da seguinte mamada, as minhas mãos transpiravam de ansiedade, pois cada vez que agarravam no mamilo tinha a sensação de agulhas a espetar-me e sentia dor.
Pior é que no intervalo das mamadas não podia descansar as mamas, tinha que extrair o leite com a bomba para conseguir na mamada seguinte, dar leite de biberão a um e mama a outro.
A retirada de leite com a bomba também não era confortável para mim pelo estado em que as mamas se encontravam, mas por vezes adormecia uns momentos durante o procedimento, pois estava exausta de tão pouco dormir e das rotinas diárias que eram extenuantes.
A minha rotina de amamentação
Eu amamentava os meus filhos de 3h em 3h, o normal nos recém-nascidos, e eles eram muito certinhos. Por norma, ao fim das 3h acordavam para mamar.
Eu dava mama a um e biberão a outro e depois alternava. Por fim, dava um pouco de leite de fórmula, conforme recomendação médica no caso de gémeos.
O suplemento/leite de fórmula que recomendam no caso de gémeos, já não me recordo das explicações médicas, mas penso ter a ver com o facto do leite materno ser mais facilmente digerido (o que é bom) e tendencialmente os bebés precisarem de comer mais vezes e em maior quantidade, o que seria mais complicado quando se trata de mais do que um bebé. Este reforço vai garantir que ficam totalmente saciados. Apesar disso, do que me lembro, os meus filhos nunca faziam intervalos superiores a 3h.
Cheguei a dar mama aos dois ao mesmo tempo para poupar algum tempo, mas era muito cansativo, e eles próprios não ficavam tão confortáveis.

Quando dormiam, aproveitava para extrair leite com a bomba, mas na verdade o que me apetecia e precisava era dormir/descansar nesses intervalos.
Mas tinha que fazê-lo para ter leite suficiente para os dois quando acordassem. Quando terminava de tirar o leite, desejosa por ter algum tempo para fechar os olhos e a rezar para que não acordassem, a maioria das vezes, acordavam passado muito pouco tempo, prontinhos e sequiosos por leite. O descanso teria que ser adiado mais uma vez e até não sei quando…O pai dava biberão a um e eu dava mama a outro.
Aqui não havia (e não há) lugar a descansar um de cada vez, como acontece com os casais apenas com um filho bebé, ambos tínhamos que estar sempre de plantão e fazer de tudo, o que torna tudo mais complicado a vários níveis (falarei da falta de descanso dos pais de gémeos em artigos seguintes).
Conforme referi em artigos anteriores, tive que recorrer a uma grelha de registo, não só mas também para me orientar quanto às mamadas: horário e tipo de leite que bebiam, uma vez que faziam amamentação mista e eram dois bebés.
Incutiram-me este método na maternidade e dei continuidade por considerar uma ferramenta muito útil. Aconselho a todas as mamãs de gémeos a utilizarem este método de orientação.
Apesar de todas as dificuldades descritas, aguentei a amamentação pelo tempo que os meus filhos “quiseram”, sensivelmente até aos oito meses. Um deles passou os oito meses.
Tenho noção que nos primeiros meses, se tivesse desistido pelo sofrimento que estava a passar, e não os tivesse incentivado, provavelmente não teriam bebido leite materno ou tê-lo-iam feito por muito pouco tempo.
Outra noção que tenho presente é que o facto de ter estado em vários momentos sozinha com os meus filhos, a parte da amamentação também foi “vítima”, pois era muito difícil dar mama aos dois ou dar mama a um e biberão a outro, ao mesmo tempo.
Por norma os horários entre si eram compatíveis, acordando ao mesmo tempo para se alimentarem. Quando acordavam, não tinham muita paciência para esperar, começavam os dois a chorar em simultâneo e muito provavelmente influenciados um pelo outro também. Estes episódios deixavam-me num estado enorme de ansiedade e nervosismo.
A forma mais fácil e rápida que consegui encontrar para alimentar os dois em simultâneo quando me encontrava sozinha foi usando o biberão, deitados nas espreguiçadeiras.
As espreguiçadeiras têm três níveis de elevação das costas, eu colocava no nível intermédio, e sentada no meio dos dois, dava-lhes biberão. Segurava um biberão com leite em cada mão uns largos minutos e várias vezes ao dia, ganhei alguns músculos assim (riso).
De muito me valeram essas espreguiçadeiras quando me encontrava sozinha, tanto para os alimentar, como para colocá-los a arrotar, e até para curtas sestas, uma vez que a base me permitia balançá-los. Recomendo vivamente às mamãs de gémeos e a todas as mamãs em geral.

Nestes momentos dava-lhes do meu leite e do artificial, mas na maioria das vezes era o artificial por ser mais rápido e prático de preparar.
Cada vez que os alimentava com leite artificial, pairava a dúvida na minha cabeça se podia estar a incentivar a rejeição da mama/leite materno (algo que o povo diz, mas que não está provado cientificamente) e a menor produção de leite (a produção de leite depende do estímulo). Eu ficava frustrada e preocupada com a situação. Mas como é conhecida a expressão: “Em tempo de guerra, não se limpam armas.” Ou seja, dentro das minhas possibilidades, eu fazia o melhor que conseguia e para conseguir saciar-lhes todas as necessidades, era impossível ser com a máxima qualidade e perfeição em todas, apesar de ser o meu desejo.
Há outros fatores que afetam a mamã de forma negativa e também não facilitam o processo da amamentação, nomeadamente o stress e pressão diária, a ausência de uma alimentação equilibrada e as vezes recomendadas, e a falta de descanso. Esta era a realidade do meu dia a dia.
O desgaste físico e psicológico/emocional que todas as recém-mamãs sentem nos primeiros tempos é em dobro no caso das mamãs de gémeos. As preocupações e inseguranças também.
Nessa fase tinha muitas dúvidas, mas hoje tenho a certeza que fiz o melhor que pude pelos meus filhos.❤❤
