A minha (pseudo) recuperação em casa (pós-parto: parte III)

Um dia de muitos em que mal me encostei, “apaguei”, rendida pelo cansaço e o esforço físico a que o meu corpo estava a ser sujeito na fase de recuperação. O telemóvel que me permitia supervisionar os meus filhos acompanhava-me para todo o lado.

Este artigo serve para descrever os pontos que tenho mais presentes na memória e que marcaram a minha recuperação. 

A recuperação completa de uma cesariana é demorada e não é fácil, pois é uma cirurgia de grande porte, e segundo os médicos, o corpo precisa de cerca de seis meses para se recompor. A cirurgia implica o corte de várias camadas de músculo que precisam de tempo para se repararem e sararem. 

Esta é semelhante à recuperação de outra qualquer cirurgia abdominal com uma diferença fundamental, temos que cuidar também de um bebé, no meu caso de dois.

Tive conhecimento que a cesariana com anestesia geral faz atrasar os mecanismos naturais de recuperação, podendo também ser um fator que explica as dores que senti até tão tarde. Para além deste, o facto de nunca ter “parado” desde que cheguei a casa, acredito não ter facilitado o processo.

❤ As dores abdominais acentuadas e sensação de peso que senti após a cirurgia, e consequente dificuldade de movimentos, mantiveram-se durante pelo menos um mês em casa. E apesar de ir recuperando os movimentos e as dores irem diminuindo gradualmente, após o primeiro mês continuava com dores e desconforto de uma forma geral. Se bem me lembro, só após o segundo mês é que começaram a aliviar, de forma a conseguir desempenhar determinadas tarefas com menos dificuldade.

❤ Apesar do meu estado físico quando entrei no terceiro mês estar significativamente melhor, ainda sentia dor e hipersensibilidade na zona da incisão. Segundo os médicos, o corte precisaria de cerca de seis semanas para sarar. Creio que foi o tempo que levou o meu, apesar da dor e hipersensibilidade se terem mantido por muito tempo. Lembro-me dos meus filhos terem sensivelmente um ano ou mais, e quando me davam com os pés nessa zona, de forma involuntária, sustinha a respiração por uns largos segundos com tanta dor. Ainda hoje é uma zona sensível.

❤ Foram necessários dezassete agrafos para fechar a minha incisão e estes foram retirados após duas semanas da cesariana, se a memória não me falha. Durante o procedimento, tive um misto de sensações: alívio por deixar de sentir o repuxamento, mas alguma dor e sensibilidade.
Quando vi pela primeira vez o corte com os agrafos, fiquei um pouco impressionada, pois o aspeto não era muito bonito! O corte tinha um tamanho significativo, estava bastante vermelho e cheio de agrafos (os meus eram mais grossos do que os da imagem abaixo)
Um dos agrafos teve que ser retirado uns dias antes dos outros porque comecei a sentir queimação, dor mais acentuada, inchaço e vermelhidão. O local onde esse agrafo estava cravado estaria a ficar inflamado. Hoje a minha cicatriz quase não se nota.

Esta barriga é de outra mamã, pois não tenho fotos da minha nesta fase. Fui buscar uma imagem para vos mostrar um exemplo de uma cicatriz com agrafos (a quem nunca viu).

❤ Mantive também a hemorragia que surgiu logo após a cesariana, como se fosse uma menstruação forte, durante sensivelmente dois meses. Cheguei a questionar a minha médica se seria normal, devido à intensidade e à duração do fluxo. A resposta foi que era comum acontecer. 

❤ Lembro-me dos primeiros banhos em casa terem sido muito difíceis, não mais do que o primeiro no hospital, mas também dolorosos porque ainda tinha muitas dores e estava muito limitada em relação aos movimentos. No fim ficava exausta, como se tivesse corrido meia maratona. 

❤ As minhas mamas continuavam “empedradas” porque o leite ainda não tinha a saída que devia devido à dificuldade por parte dos meus bebés em fazer uma pega e sucção eficaz. Passados poucos dias comecei a fazer fissuras nos mamilos e não só… A amamentação foi muito diferente do que eu sonhara um dia quando me tornasse mãe, em que me imaginava a dar mama serenamente e a ouvir uma música relaxante. Para além de não ter tido este romantismo, nunca pensei vir a amamentar dois bebés em simultâneo (riso). A amamentação é um tema que aprofundarei no próximo artigo.

❤ Passado pouco tempo de regressar a casa, comecei também a sentir muita queda de cabelo que durou um ano ou mais, não posso precisar. É algo comum no pós-parto devido à queda a pique das hormonas da gravidez, o contrário acontece durante a gravidez. Enquanto grávida tinha o cabelo forte e mais viçoso do que nunca. Após o parto ficou muito fraco e hoje está saudável de novo. 

Optei por fazer um bom corte para ver se o fortalecia e não caía tanto.

❤ Quanto ao sistema gastrointestinal, eu nunca tinha sofrido de prisão de ventre até engravidar. Durante a gravidez e até bastante tarde, sofri desta condição.
Na fase mais crítica de dor na zona do corte, cada vez que tinha que ir à casa de banho era um “filme de terror”, assim como a tosse, o espirro ou assoar-me, uma gargalhada (nesta altura não haviam muitas), qualquer ação que interferisse com os músculos abdominais tornava-se dolorosa. Mais à frente comecei a ter dores de estômago, mas sua origem estava no stress, muitas horas sem comer, incorreta alimentação e refeições feitas à pressa.

A força da maternidade é maior que as leis da natureza. (Bárbara Kingsolver)  ❤