A minha gravidez (gemelar)

6º mês de gravidez

Exma. Sr.ª Dona Gravidez

A minha gravidez foi uma Exma. Sr.ª Dona Gravidez, vão perceber ao longo do texto o motivo da expressão escolhida por mim.
Ainda antes de saber o resultado do teste de gravidez já andava com náuseas, “o tal” sinal que fez crescer a minha esperança de estar grávida. Esses enjoos duraram toda a gravidez e não eram só matinais, eram o dia todo, e foram aumentando de intensidade. Eu recordo-me de ter dificuldade em adormecer por estar tão enjoada, e se acordava de madrugada, continuava enjoada. No entanto, estes enjoos eram mais severos da parte da manhã, e mais ainda ao acordar. Era impossível levantar-me sem comer uma ou duas bolachas maria (dica médica) porque se não vomitava. Mesmo assim tinha que me levantar muito devagar. Cheguei a vomitar algumas vezes ao levantar, e as manhãs eram uma tortura. Ao longo da tarde, os enjoos tornavam-se um pouco menos intensos, mas mesmo assim andava sempre muito enjoada, desde que acordava até que adormecia. Por vezes à noite, quando me ia deitar, parecia ter o estômago empedrado, além dos enjoos, era uma sensação horrível.
Ver comida não me fazia muita diferença porque as náuseas eram constantes e não tinham haver com alimentos específicos, mas estaria muito sensível a certos odores (determinados perfumes, géis de banho e outros mais intensos). Uma dica que li na internet, e me aliviava um pouco quando os enjoos eram insuportáveis, era cheirar limão.

Como se já não bastassem os enjoos, descobri que tinha desenvolvido diabetes gestacional, logo, tive que ter sempre muito cuidado com a alimentação e seguir a rigor a dieta que me foi prescrita, para além de exercício físico (caminhadas). Tinha-me sido atribuído um plano alimentar de X Kcal (ajustado à minha situação em particular) e fracionado em seis refeições. Eram dadas algumas alternativas equivalentes para cada refeição, tornando-as assim menos monótonas, mas continuavam pouco atrativas.
Em suma, o plano alimentar foi elaborado com o cuidado de incluir alimentos com baixo índice glicémico, pouca ou nenhuma quantidade de açúcar e poucos hidratos de carbono. A quantidade dos alimentos era doseada.
Esta dieta não contribuía para melhorar as minhas náuseas, pelo contrário. É sabido que as mulheres nesta fase têm vontade de cometer algumas extravagâncias como forma de se mimarem, eu não podia fazê-lo, ou não devia. Também seria a primeira vez na vida que faria dieta, e logo nesta fase! Hoje penso no lado positivo, engordei pouco graças a esta condição, se assim não fosse, e grávida de gémeos, seria complicado.

Para além da dieta, foi-me recomendado caminhar a seguir a cada refeição principal. Estas práticas ajudar-me-iam a controlar os níveis de açúcar. Esta parte não me fez diferença alguma porque gosto muito de caminhar, faz-me bem ao corpo e à mente, para o fim é que se tornou mais difícil.
Para medir os níveis de glicemia, tinha que fazer uma picada no dedo todos os dias, em jejum e 2h após cada refeição principal, ou seja, quatro picadas/dia, e registar os valores que acusavam no aparelho de medição de glicemia.

Como a minha mãe tem diabetes tipo 1, tanto este procedimento como o das injeções que tive que dar na barriga a mim própria aquando estavam a decorrer os tratamentos, não foram um choque ou novidade. Infelizmente esta realidade era-me muito familiar há sensivelmente 30 anos. Talvez por isso, tivesse sido mais fácil adaptar-me a esta condição, mas não deixava de ser um grande incómodo e uma preocupação. Devido a este fator engordei pouco, praticamente o peso que ganhei foi referente aos bebés e pouco mais, ao contrário do que acontece com a maioria das grávidas de gémeos. Numa gravidez única o aumento de peso da mãe é por norma de 8 a 12 kg, na gemelar é de 14 a 18 kg. Eu engordei 10kg, mas só os bebés pesavam sensivelmente 6kg a chegar ao fim da gravidez porque nasceram os dois com 3kg cada (um com 3kg e o outro com 2990kg, com 48 e 49 cm). Eram uns bebés bastante razoáveis, o que não é comum em gémeos, por norma nascem com menos peso.

Segundo pesquisa que fiz, cerca de trinta por cento das mulheres grávidas de gémeos entram em trabalho de parto prematuro, e cerca de metade dão à luz antes das trinta e sete semanas, portanto prematuros, o que também justifica o peso mais baixo dos bebés. A média de idade gestacional para gémeos é de trinta e cinco semanas e seu peso médio é de 2,3 kg. Qualquer peso abaixo de 2,5 kg é considerado abaixo do ideal. Os meus filhos nasceram às trinta e oito semanas com 3kg cada. Imaginem se nasciam às quarenta semanas? Antes de eu engravidar pesava 55kg e atingi o peso máximo de 65kg.

A médica que me seguia, alertava-me que se os níveis de glicemia não andassem controlados, podia prejudicar o crescimento e o bem-estar dos bebés, logo, eu seguia à risca todas as recomendações médicas. Apesar disso, por vezes tinha um registo ou outro um pouco mais elevado, mas eu cumpria todas as orientações, talvez o sistema nervoso tivesse influencia e/ou outros fatores. Mesmo assim, não me livrava de um “raspanete” subtil da médica, mas antes excesso de cuidado/preocupação por parte desta do que o contrário.

Passo a informar de algumas consequências da diabetes mal controlada para a grávida e para o/os bebé/bebés de que tomei conhecimento:

Grávida:
Rompimento da bolsa amniótica antes da data prevista; parto prematuro; feto que não vira de cabeça para baixo antes do parto; aumento do risco de pré-eclampsia (elevação súbita da pressão); probabilidade de um parto por cesariana ou de laceração do períneo no parto normal devido ao tamanho do bebé.

Bebé:
Desenvolvimento da síndrome da angústia respiratória (dificuldade para respirar ao nascer); bebé muito grande para a idade gestacional, que aumenta o risco de obesidade na infância ou adolescência; doenças cardíacas; icterícia; hipoglicemia após o nascimento.

Estes riscos podem ser diminuídos se a mulher seguir o tratamento corretamente, por isso, a grávida com diabetes gestacional deve ser acompanhada no pré-natal de alto risco.

Eu tinha dois fatores de risco, e portanto, maior propensão a desenvolver diabetes na gravidez: idade superior a vinte e cinco anos e histórico familiar. É também uma complicação frequente nas gestações gemelares, bem como a anemia. No entanto, há grávidas que necessitam de recorrer à insulina, e eu felizmente, consegui controlar com uma dieta cuidada e exercício físico. Há também uma maior propensão as gestantes com diabetes, ficarem com diabetes, mesmo após o parto. Felizmente não me aconteceu!

Para além dos enjoos e diabetes, ganhei anemia. Foram só “conquistas” ao longo da minha gravidez, mas a única positiva foi mesmo os meus bebés porque a gravidez foi um tortuoso percurso, acreditem! Com a anemia, à medida que a gravidez evoluía, cada vez me sentia mais cansada e fraca, para o fim, muito fraca. O peso também não ajudava. Mas fiz as minhas caminhadas durante o tempo máximo que consegui. Aproveitava para passear o meu Hachi, um grande “cãopanheiro” nesta fase e mais protetor do que nunca, por vezes eu “arrastava-me” e ele também (risos), mas nunca desisti.

A anemia é uma condição clínica que pode surgir na gravidez. A presença desta no organismo quer dizer que, o sangue não tem eritrócitos suficientes em circulação para transportar o oxigénio a todos tecidos e órgãos, e ao bebé. Quando os tecidos não recebem a quantidade adequada de oxigénio, as suas funções são afetadas, assim como o normal desenvolvimento do bebé. Segundo a médica que me acompanhava, durante a gravidez, o risco de desenvolver anemia é maior, considerando que, o organismo produz mais sangue para suportar o crescimento do bebé, nas gravidezes múltiplas é ainda maior, uma vez que é mais do que um bebé. Se o organismo não recebe o ferro e outros nutrientes que necessita, para a produção dos eritrócitos para esse sangue adicional, é possível que se verifique uma anemia. Daí a mulher começar desde cedo a tomar ferro.

Apesar de quase me ter esquecido, devido à minha condição física, mas não menos importante, não era imune à toxoplasmose. Toxoplasmose, ou “Doença do Gato” é uma doença infecciosa causada pelo protozoário chamado Toxoplasma gondii, encontrado nas fezes dos gatos e outros felinos. Pode causar sintomas semelhantes aos da gripe até infetar o cérebro. Para crianças nascidas de mães infetadas e de pessoas com sistema imunológico enfraquecido, a toxoplasmose pode causar complicações sérias. Felizmente correu tudo bem quanto a esta parte. Tinha alguns cuidados, mas não muito rigorosos.

No início da gravidez, talvez até aos três meses, também sofri algumas hemorragias. Uma logo à terceira semana, conforme o meu segundo artigo. A primeira vez que tive, estava sozinha em casa. Senti-me molhada, e quando fui ver o que era (mas com o coração nas mãos), estava com as cuecas cheias de sangue, como se estivesse com o período. Entrei em pânico porque pensei logo o pior: “perdi os meus bebés!” Lembro-me tão bem de ter tido o pensamento que era bom de mais para ser verdade (muito fruto da dificuldade e o tempo que tive para engravidar). Liguei ao meu marido a chorar (ele estava a trabalhar), e em dez minutos, pôs-se ao pé de mim e levou-me ao hospital. Ainda não tinha feito a primeira ecografia, estava marcada numa data próxima em Coimbra, e dirigimo-nos ao hospital de aveiro. A situação por si só já era desoladora, mas a triagem hospitalar ainda contribuiu para que me sentisse pior e sem esperança. A enfermeira que a fez, e tenho pena de não lhe ter decorado a cara e o nome, mas também não era para menos na condição em que me encontrava, mediu-me a tensão, a temperatura, fez-me algumas questões, e além de me ter colocado a pulseira amarela, quando eu pensei ser um caso urgente pois poderia estar a perder os meus bebés, ainda me disse: “a menina ainda é nova, arranja outro bebé!” Eu que numa condição normal lhe responderia à altura, respondi como se estivesse suplicando ajuda tal era o desespero: “Mas eu não quero perder os meus bebés!” (estou arrepiada só de lembrar porque foi uma situação muito complicada emocionalmente e que me deixou extremamente assustada).

No fim de tudo o que passei, não podia perder os meus bebés, não podia ser verdade, mas o meu coração estava “apertadinho” com receio de que fosse essa a realidade! Fui levada para a ala da ginecologia/obstetrícia e aguardei. O tempo de espera pareceu uma eternidade e o meu pensamento era que quanto mais tempo demorassem a observar-me, menos chances eu teria de salvar os meus bebés, como se eles me estivessem a “fugir” por aquele sangue. Lembro-me de me contrair com a ilusão de que, ao fazê-lo, estaria a “segurá-los”. Claro que eu não estaria a agir racionalmente, eu “transpirava” desespero, medo, angustia, … Finalmente fui chamada (até não demoraram muito tempo, apesar de parecer, dadas as circunstâncias) e depois de algumas questões que eu muito apressadamente respondi para acelerar o processo, pois só queria deitar-me na marquesa para ser observada, finalmente pediram-me para fazê-lo. A equipa médica era constituída por uma médica e algumas estagiárias, fartavam-se de falar entre elas, eu só ouvia um eco de vozes e só temia ouvir o pior. Pediram-me para não me contrair e relaxar. Como era possível consegui-lo numa situação daquelas? Eu estava a tremer, sentia frio, mas de medo. Fizeram algum suspense, mais um teste ao meu coração que provou mais uma vez ser forte, e a médica lá se dirigiu a mim, dizendo: “vejo aqui os dois embriõzinhos ……….. com os corações a bater, está tudo bem com eles!” (ufa! era só o que eu queria ouvir, o resto era blá, blá, blá). Mas claro que tudo o que disse era importante, eu teria sofrido um micro descolamento da placenta e tinha que ter cuidado, fazer repouso absoluto durante alguns dias (já não me recordo quantos) até estabilizar. Acrescentou ainda que o processo de nidação (implantação do embrião no útero) nas gravidezes gemelares podia ser mais longo e também dar origem a hemorragias nesta fase.

A partir do momento que a médica disse que estava tudo bem com os embriões, parece que me nasceu uma alma nova, fiquei tão feliz, até me estava a custar crer que fosse verdade. Comecei a descomprimir. Estava desejosa de contar ao meu marido que ficou à espera na sala de espera, e também, com o coração nas mãos de tão aflito.
Assim que saí, disse-lhe que estava tudo bem e abraçamo-nos. Ele respirou de alívio e ficou muito contente. Pelo caminho, na viagem para casa, olhei para o meu marido que estava muito calado e vejo lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto (e o meu marido não foge à regra da maioria dos homens, foram raríssimas as vezes que o vi de lágrimas nos olhos), de seguida também eu fiquei com os olhos cheios de lágrimas e não precisámos de falar, estávamos a chorar de alívio e felicidade. Demos as mãos e fomos em silêncio até casa, sem conseguir falar. Tínhamos apanhado um grande susto, e o pior tinha-nos passado pela cabeça.

Voltei a ter mais duas ou três hemorragias severas que me levaram ao hospital e me assustaram, e outras mais moderadas a ligeiras. Mais à frente, e talvez para me tranquilizar, a médica informou-me que apesar das hemorragias serem sempre motivo de preocupação, e por norma, motivo para recorrer à urgência hospitalar, a partir daquele momento, não necessitava de fazê-lo no caso das hemorragias mais ligeiras, salvo houvesse um agravamento dos fluxos e/ou das frequências, ou a cor do sangue fosse vermelho vivo, uma vez que já tinha feito várias ecos de controlo para perceber a origem da hemorragia, e até ao momento não teria sido identificada nenhuma complicação grave que justificasse. No entanto, e porque sabemos que o primeiro trimestre é um período delicado, recomendou que não fizesse esforços e não estivesse muito tempo de pé, todo o cuidado seria pouco. Apesar desta informação, sempre que tinha hemorragias, por mais ligeiras que fossem, ficava muito preocupada porque de facto, não estava livre de risco do pior acontecer. Qualquer perda de sangue durante a gravidez ou sangramento acompanhado de coágulos pode significar aborto espontâneo ou outra complicação.

A partir do sexto mês a minha médica, aconselhou que ficasse em casa com baixa de gravidez de risco, normal nas gravidezes gemelares que são consideradas como tal. Também era muito difícil manter-me a trabalhar pois foi sensivelmente a partir desta fase que as minhas limitações começaram a acentuar-se.
A partir de uma certa altura da gravidez, talvez a meio, um dos bebés colocou-se numa posição (o meu Diego, se não me engano), em que me pressionava as costelas junto ao diafragma com os pés, e me causava uma dor muito incómoda e constante o dia todo. A dois meses sensivelmente do fim da gravidez, com estas dores nas costelas que irradiavam para as costas, mais o desconforto do tamanho e peso da barriga, deixei de conseguir dormir. Não conseguia ter uma posição que me fizesse sentir confortável e sem dores. Uma vez fui ao cinema com o meu marido, e tive que ver o filme todo de pé, tal era o desconforto sentada. Acabei por recorrer a ajuda de fisioterapia para me aliviar as dores, pelo menos, enquanto estava a ser massajada sentia algum alívio, por isso estava sempre desejosa de ir, para sentir em 24h, algum alívio (com muita pena minha não ia todos os dias). Por vezes, e porque não dormia quase nada de noite, “passava pelas brasas” (poucos minutos) na marquesa, quando deixada sozinha com compressas quentes e luz baixa. Para quem precisava tanto de dormir, todos os bocadinhos contavam e sabiam tão bem! Mas mal me levantava daquela marquesa, o desconforto voltava em força.

Se os meus dias eram muito difíceis, as minhas noites passaram a ser um suplício. À noite não conseguia dormir, apenas “cochilava” alguns minutos sentada no sofá, seguidos eram poucos. Ligava a televisão para desviar um pouco a atenção das dores e ver se conseguia adormecer, sono eu tinha muito, mas as dores persistentes e o incómodo, não me permitiam dormir. Depois, a partir de uma certa altura, comecei a ter muita comichão na barriga e pernas, não sei se derivada à falta de descanso, se à minha condição física no geral, o mais provável era esta última.

A partir de determinada altura, lembro-me de chorar de desespero quase todas as noites, porque sentia-me tão cansada e a precisar tanto de dormir, e não conseguia, dia após dia, era mesmo uma tortura, não consigo arranjar palavra melhor para descrever, eu estava a ficar num estado lastimável! Mal eu sabia que em termos de privação do sono, só estaria a “começar a caminhada”, pois depois do nascimento dos meus filhos continuei a não dormir pelas razões óbvias, mas menos óbvias na parte de ter sido até tão tarde, aprofundarei este assunto em outro artigo.

Portanto cheguei a uma fase da gravidez mesmo muito difícil, para além de não dormir, o que junto com a anemia que cada vez se acentuava mais, e ao meu estado em geral, me fez chegar a um ponto de cansaço extremo. Não esquecendo que os meus enjoos me acompanharam até ao fim da gravidez, o peso cada vez era mais marcado, já estaria a chegar aos 6kg de peso de barriga porque os meus filhos nasceram com 3kg cada e como consequência, os meus pés e pernas ficaram muito inchados, conforme a foto (é um dos meus pés em repouso, e estavam os dois assim). Com os pés no estado que estavam, o peso e o cansaço que sentia, comecei a ter dificuldade em caminhar até que tive mesmo que parar. Cheguei a um ponto que quanto mais andava, os pés mais inchavam (mais do que na foto) e causavam dor.
Havia uma série de limitações que me impediam de curtir a gravidez que eu tanto desejei.

A chegar mesmo ao fim da gravidez, e tendo aguentado o máximo que pude este mal-estar generalizado, cheguei ao ponto de pedir à minha médica para acelerar o meu parto porque eu já não aguentava mais aquela condição.

A minha gravidez, como devem compreender, não me deixou saudade alguma, apenas tenho saudade de “sentir os meus bebés dentro de mim”, e se eles eram mexilhões! Uma vez uma senhora, na casa dos setenta anos e também mãe de gémeos, disse-me que teve uma Exma. Sr.ª Dona Gravidez, relatando-me as dificuldades que sentiu, ainda eu estava no início da minha, mas já com muitos enjoos, e eu hoje posso afirmar que a entendo perfeitamente porque também experimentei uma Exma. Sr.ª Dona Gravidez, daí a expressão escolhida por mim para designar a minha gravidez.
Fiquei com pena de não ter desfrutado da minha gravidez como idealizava, por todas as limitações e dificuldades que senti, no entanto, e custa-me só de pensar, seria capaz de passar por tudo de novo, se fosse a condição para ter os meus filhos. Foi por um bem maior! <3

Apesar de todos os desconfortos e dores, acho que fui uma “grávida fácil”, só havia alturas que ficava um bocado triste porque não estaria a desfrutar da minha gravidez como desejaria, de forma tranquila e alegre, pelo contrário, desejei que ela chegasse ao fim rápido, e para o fim, já era impossível não me queixar pelo mal estar que sentia. Nem com desejos fui exigente ou incomodei o meu marido. Aconteceram-me três coisas fora do normal, e até engraçadas, por isso hoje posso afirmar que os populares desejos de uma grávida não são caprichos, apesar de ter achado sempre que seria uma forma da grávida obter mais atenção (e merecida), numa fase de maior carência, e pelas hormonas que andariam saltitantes, o que também é verdade, mas não é a única explicação.

Quis informar-me do que está por de trás deste fenómeno tão curioso e eis que a resposta é que durante a gestação, parte dos nutrientes que a grávida ingere são utilizados pelo bebé (bebés no meu caso) em crescimento e assim, se a alimentação não for suficiente para fornecer todos os nutrientes necessários, a grávida irá sofrer de carências nutricionais. Quando isto acontece, o cérebro irá “pedir” que a grávida consuma alimentos ricos nos nutrientes em falta. Daí o desejo específico por determinados alimentos. Com o início da gravidez, ocorre também uma grande alteração hormonal, por via do aumento dos níveis de determinadas hormonas. A progesterona e a prolactina por exemplo, são responsáveis pela mudança do nível de pH na boca, e ainda, pela alteração do apetite. Assim, além da grávida ter vontade de comer mais, também a alteração do pH provoca a mudança na forma como sente os sabores, levando-a a preferir novos e estranhos sabores. Também é uma fase em que a mulher sente uma maior insegurança e carência, estando também este fator relacionado aos desejos da grávida. Algumas teorias ainda defendem que há alguns mecanismos do corpo funcionando, como por exemplo, um desejo por leite pode significar que a grávida precisa de cálcio ou um desejo por frutas pode significar a necessidade de vitamina C. As frutas, leite e produtos lácteos (bem como chocolate e lanches salgados) são os desejos de gravidez mais comuns.

Eu tive desejo de comer sopas de leite (como eu comia algumas vezes em miúda em casa dos meus pais, leite com muito chocolate e pão aos pedaços ensopado no leite). Não é nada de estranho nem fora do comum, pois não? Mas para mim é porque não gosto, nem nunca gostei de leite (daí que quando comia na casa dos meus pais em miúda, o leite tinha que ter muito chocolate), só o cheiro me incomoda, e não me sinto bem quando o bebo. Pois posso dizer-vos que dessa vez me soube pela vida de tão bem! Mas só me apeteceu uma vez e ainda bem, se não o que seria da diabetes!

Outra coisa que me apeteceu comer foi manteiga, pão com manteiga. Também não parece nada de anormal, pois não? Mas eu nunca apreciei manteiga, dispensava perfeitamente, ou comia pão com queijo ou pão com queijo e fiambre e quanto muito, marmelada. Nessa altura apeteceu-me várias vezes pão com manteiga e passei a gostar. Hoje ainda gosto de manteiga, mas de leite não.

A terceira situação e essa sim, é muito estranha e até engraçada, como lhe quiserem chamar. Uma vez estive a observar o meu marido a lavar a loiça, e gostei de vê-lo a espremer a esponja que estaria ensopada de água e detergente (riso). Não é que a partir daqui, só me apetecia pegar na esponja com água, pôr detergente de propósito e espremer debaixo de água até ficar sem espuma? (mais riso) Claro que aproveitava para lavar loiça, mas quando não havia e me apetecia fazer esta coisa “bizarra”, fazia na mesma. Dava-me um gozo! Isto tem que estar relacionado com o fenómeno em cima, coisas mesmo de grávida porque nunca mais me aconteceu e ainda bem, se não era uma renda de água. Também li que, para além dos desejos alimentares, podem sim surgir outros mais estranhos. Podia dar para pior, ou não! Portanto, não arranjei nenhuma missão impossível ao meu marido e aconteceu tudo em horário aceitável!

Mais uma curiosidade, eu que nunca fui gulosa, apesar de ter gostado sempre de chocolate, mas passava bem sem doces e comia-os quando ”o rei fazia anos”, passei a apreciar mais os doces depois da gravidez, talvez o facto de ter tido diabetes e me ter privado de doces quase nove meses (o fruto proibido), mais o facto de ter passado uma boa temporada malnutrida, e de muito desgaste físico e psicológico (primeiros tempos após nascimento dos bebés), pode ter contribuído para esta minha nova predisposição.

Algo que me ajudou muito em todo este processo de gravidez, foi o ter conhecido e estado em contacto regular com várias mamãs de gémeos, foram para mim um enorme apoio. Com as suas experiências de gravidez, conseguiram dar resposta a muitas das minhas dúvidas, deram-me conselhos e dicas que foram de grande utilidade e acima de tudo, muitas palavras de consolo, força e ânimo. Lembro-me de dizerem que quando os bebés nascessem, eu iria ter outro “tipo de dores”, mas naquela fase, achava que nada podia ser pior do que o que estaria a passar.
Nunca é de mais voltar a agradecer todo o vosso apoio: Paula Maia, Carla Ferreira, Dora Santos, Eva Miranda, Catarina Praça e perdoem-me se me escapou alguma. Bem hajam! ❤

Sexo dos bebés

Importante ressalvar que fui fazendo várias ecografias, controlo da diabetes, anemia, peso, entre outros indicadores que eram avaliados ao longo da minha gravidez na maternidade Dr. Daniel de Matos, onde era seguida.

Antes da altura mais comum de se conseguir saber o sexo dos bebés que, por norma, é entre a décima segunda e décima terceira semana, não posso precisar quando foi exatamente, a médica pela sua vasta experiência, arriscou em dizer que eram dois “pilas”. Nós, apanhados desprevenidos com a informação precoce, ficámos surpresos e um bocado tristes (não vou fingir que fiquei felicíssima, mas também não foi nenhum drama). Hoje compreendo a nossa reação, porque quando somos pais de primeira viagem, e de gémeos, na grande maioria, desejamos que seja um casal. Penso que a vontade tem origem na curiosidade em experimentarmos ser papás de uma menina e de um menino, sabemos que há diferenças significativas, um bom exemplo tem a ver com a relação criada com o pai e com a mãe, segundo falam. Neste momento não penso assim, porque é lógico que não trocava nenhum dos meus meninos por uma menina, para além disso, ao longo destes três anos, tenho-me apercebido do quão prático é ter duas crianças do mesmo sexo, e meninos.

Sempre que íamos fazer uma eco, até porque a médica alertava sempre que a informação era prematura e não era infalível, tínhamos esperança que nos dissessem que afinal era um casal. Havia um bebé que ela tinha certeza que era do sexo masculino, o outro ela tinha “quase” a certeza que também era. Até ao fim nunca ouvimos que foi engano, que era a nossa esperança, e cada vez mais havia indícios que a médica teria razão, até que veio a confirmar-se: eram dois lindos rapazolas! ❤ ❤

O que significa que depois da confirmação “são meninos”, ambos tivemos que reprogramar a nossa cabeça para o fato de sermos pais de dois meninos, pois tivemos sempre a esperança que fosse um casal e já idealizávamos esse cenário. Também já tínhamos uma lista enorme de nomes de meninas confesso, e uma mais pequena de meninos (não é tão fácil). Fomos aos poucos nos mentalizando que iam ser dois meninos.

Nome dos bebés

Depois da constatação que seriam dois meninos, teríamos que, da lista pequena que tínhamos, escolher dois nomes. Mas em nossa cabeça tudo mudou, até os critérios que utilizámos para a escolha dos nomes. Até aqui queríamos apenas nomes fora do comum (sempre tivemos de acordo quanto a isso) e que nos agradassem (aqui nem sempre estivemos de acordo), mas depois da confirmação do sexo, os critérios passaram a ser: manter os nomes fora do comum, e, este seria novo, que tivessem um nome cuja primeira letra fosse igual à letra inicial do nome do pai e do nome da mãe, ou seja, um teria um nome começado pela letra D como o nome da mãe (Daniela) e o outro pela letra R como o nome do pai (Roberto). E assim nasceram os nomes dos meus príncipes, o Diego e o Rubim! ❤ ❤

A questão que agora surgia, e seria colocada na maternidade com certeza, é como seriam atribuídos os nomes aos bebés. E eu lembrei-me de imediato de um método simples e eficaz: atribuía-se o nome pela ordem alfabética e de nascimento, ou seja, o primeiro que nascesse ficaria com o nome de Diego (letra D vem primeiro que o R no alfabeto) e o segundo ficaria com o nome de Rubim (letra R vem depois do D no alfabeto). Diego e Rubim, os nomes mais bonitos da minha vida! ❤ ❤