regresso às aulas – um apelo a todos os que cuidam das nossas crianças

Caros Professores, Educadores, Auxiliares de Educação e todos os que diariamente apoiam e acompanham as nossas crianças,

O regresso às aulas é sempre um desafio, para os alunos, para os profissionais de educação e também para nós, pais.

Para os pais, significa ansiedade, tensão e receio: receio de não conseguir dar conta de tudo, desde garantir que os filhos chegam pontuais à escola, ao mesmo tempo que tentamos ser pontuais no emprego, até gerir horários de atividades extracurriculares, apoio ao estudo, trabalhos de casa, banhos, jantares, organização de mochilas, roupas e lanches para o dia seguinte, e assegurar que se deitem cedo e durmam as horas necessárias para a sua saúde e bem-estar, sem esquecer, quando possível, conseguir arranjar ainda um bocadinho de tempo para lazer familiar, o que, muitas vezes, não é fácil.

Mas a maior ansiedade de todas é esta: que o ano corra bem! Que não haja grandes percalços, que os nossos filhos estejam seguros e que sejam tratados com respeito, carinho, empatia e solidariedade.

É por isso que vos pedimos: cuidem deles como se fossem vossos. Tratem-nos com o mesmo carinho e atenção com que gostariam que cuidassem dos vossos filhos, netos, sobrinhos…

Quando errarem, expliquem-lhes com calma e empatia a forma correta de agir, em vez de recorrer a castigos, punições ou berros. Esses métodos até podem gerar obediência imediata, mas o resultado é inverso: as crianças não aprendem a compreender os seus erros, apenas passam a temer-vos. O medo cria distância, insegurança e mágoa.

Já quando a correção é feita de diálogo, paciência e reforço construtivo, a criança sente-se respeitada, percebe o que pode melhorar e aprende verdadeiramente. E, assim, passa a respeitar-vos de forma genuína, e não por obrigação ou receio.

Quando se magoarem, estiverem tristes ou inseguros, ofereçam-lhes um ombro, uma palavra amiga, um gesto de conforto. Lembrem-se de que, nesses momentos, o que mais desejam é o colo dos pais, mas ainda faltarão algumas horas até o terem.

As crianças passam grande parte do dia convosco e muitas vezes chegam com medos, inseguranças e dúvidas. Ajudem-nas a transformá-los em confiança, autoestima e vontade de aprender.

O que hoje lhes transmitirem ficará gravado para sempre: elas nunca esquecem como foram tratadas. Ainda hoje, recordo com carinho os adultos que, na minha infância, foram pacientes e amáveis, e não esqueço alguns que foram menos simpáticos.

Sabemos bem que os programas curriculares são exigentes, com metas a cumprir, fichas de avaliação e notas a alcançar. Mas pedimos que nunca se esqueçam que há não muito tempo, estas crianças ainda usavam chupeta e fraldas, mal sabiam falar e dependiam totalmente do afeto e da orientação dos pais. Brincavam livremente, dormiam a sesta e viviam a infância sem pressões. Hoje, de forma abrupta, enfrentam mochilas pesadas, múltiplas disciplinas, longas horas sentadas entre quatro paredes e uma constante pressão para “mostrar resultados”.

Pedimos-vos que tornem este processo mais leve e natural. Sempre que possível, contrariem as pressões com métodos simples, criativos e motivadores. Transformem a obrigação em descoberta, o medo em curiosidade e a pressão em entusiasmo. É possível aprender sem sacrificar este tempo único da infância. Incentivem o aprender brincando, sem medo, ansiedade ou stress, permitindo que as crianças vivam a infância devagar, com alegria e com tempo para ser simplesmente crianças.

Eles vão amadurecer e ganhar competências para o futuro, mas agora precisam de viver o presente. Precisam de sentir que a escola também pode ser um lugar feliz. E é aí que a vossa missão se torna essencial, suavizando este processo.

Uma criança motivada aprende mais, melhor e para a vida. Uma criança ansiosa aprende apenas para “não falhar”.

Nós, pais, também procuramos fazer a nossa parte em casa, educando e transmitindo os melhores valores da melhor forma possível. Juntos e em sintonia, conseguiremos formar crianças equilibradas, confiantes, empáticas e acima de tudo, felizes!

Nas vossas mãos confiamos o que temos de mais precioso: os nossos filhos. Cuidem deles na nossa ausência, por favor. Cuidem bem.

O coração de uma mãe/pai sabe, e sente, quando eles estão felizes.

Obrigada, de coração.

Daniela Mieiro