introspeção sobre a maternidade

Em que momento percebi que queria ser Mãe?

Apesar de me conhecer desde sempre com um carinho muito especial pelas crianças, ser mãe não era algo que tinha sonhado desde tenra idade, como ouço muitas mulheres dizê-lo.

A dada altura senti essa vontade, por volta dos meus vinte e tal anos, mas sabia que não era “o melhor momento”. O melhor momento para mim seria quando tivesse uma relação estável e que a vontade partisse dos dois. E claro, era essencial ser independente financeiramente.

Assim que senti a estabilidade desejada na minha relação, a vontade de ser mãe foi crescendo. Tinha vontade de gerar um ser que fosse fruto do nosso amor, curiosidade em conhecer as suas características físicas e psicológicas. Se puxaria mais ao pai ou à mãe….
No entanto, senti que o meu namorado (agora marido e pai dos meus filhos) ainda não estava preparado para entrar no mundo da paternidade, logo, ainda não era o melhor momento.

Uma vez que se trataria de um projeto de vida a dois, para mim só fazia sentido acontecer quando ambos tivéssemos vontade de ser pais. Esperei e respeitei o seu tempo (se esse momento nunca chegasse, estaria com um problema em mãos (riso))! Até que chegou o momento em que ele revelou um grande desejo de ser pai.

Para mim, tínhamos chegado finalmente ao nosso “melhor momento”! Tínhamos sensivelmente 30 anos. Apesar disso, nem sempre o nosso “melhor momento” acontece quando desejamos ( detalhes descritos no artigo “Sonho de ser mãe” de Confissões de Mãe e Mulher).

Em algum momento questionei a decisão de ser mãe?

Nunca questionei a decisão de ser mãe! Adoro ser mãe e sou apaixonada pelos meus filhos!
Mas apesar de adorar ser mãe, sinto por vezes saudades dos tempos em que era apenas “EU”.
Saudades da altura em que dormia a noite toda e seguida…de me deitar e acordar tarde se quisesse.
Saudades de ter tempo para tudo, para além do dever, também do prazer.
Saudades de almoçar/jantar fora (agora é raríssimo).
Saudades de tomar um banho descansada. Saudades de tomar banho descansada e de banheira, a ouvir uma música relaxante (adorava e nunca mais fi-lo depois de ser mãe).
Saudades de não ter que me preocupar com horários e rotinas (ao fim de semana) e/ou não fazer nada se me apetecesse.
Saudades de viajar.
Saudades de ver filmes, séries, ler um livro.
Saudades de ir ao cinema, dançar ou a ir a um bar.
Saudades dos programas a dois com o meu marido e desfrutarmos da companhia apenas um do outro.
Saudades de coisas simples que agora tenho dificuldade ou não consigo mesmo fazer….
Apesar das saudades que sinto desse tempo, jamais o trocaria pela maternidade.

O ideal seria um dia conseguir equilibrar estes dois mundos, mas quando esse dia chegar, estou certa que também terei saudades de muitas fases já passadas do mundo da maternidade.

Acredito que à medida que os meus filhos vão crescendo, vou conseguindo reconquistar algumas coisas de que abri mão e que ainda hoje gosto de fazer.


“Saudade é a prova de que os momentos valeram a pena!” (Autor desconhecido.)

O que mudou a minha visão pós maternidade?

Vislumbrar a maternidade e ser mãe são experiências diferentes, que exigem grande entrega, principalmente nos primeiros meses de vida de um bebé, ou de dois bebés (riso). Diria antes, nos primeiros anos…

A maternidade mostrou-me que todos aqueles clichés de amor incondicional são reais. Tudo em torno da maternidade é muito intenso, começando pela gestação que nos obriga a abrir mão do nosso corpo para gerar outro, depois do nascimento a dedicação continua, a doação integral ao filho.

A compensação é sentirmos o amor que sentimos pelos nossos filhos e a reciprocidade da parte deles.

Quando temos os nossos filhos viramos leoas, super protetoras, poderosas, não há impossíveis para vermos os nossos filhos bem. Senti-me mais forte, mais confiante e mais segura.

Livrei-me de alguns receios e anseios do passado, mas surgiram outros relacionados com os meus filhos.

Se hoje eu não tivesse filhos, como acho que seria a minha vida?

A maternidade é uma vivência extraordinária e intensa que a mim me levou a descobrir muito sobre a minha pessoa e sobre a vida! Admito hoje ser uma vivência muito importante e que enriqueceu a minha vida a vários níveis.

Se não tivesse sido mãe, via algumas questões por responder, capacidades em mim por descobrir, e não chegaria a conhecer a plenitude da vida que hoje conheço.
Neste momento, a minha felicidade depende da felicidade dos meus filhos. Se eles estiverem bem, eu estou bem!

No entanto, acho importante realçar que respeito as mulheres que optam por não ser mães, e sou muito solidária com as que tentaram/tentam sê-lo. Compreendo na 1ª pessoa o sentimento destas últimas!

Ser mãe fez de mim uma pessoa melhor e mais rica a vários níveis porque estes seres puros e maravilhosos têm capacidade de realçar o melhor de nós.

O que acho mais difícil em ser mãe?

O mais difícil é a preocupação constante e eterna, é andar com o coração do lado de fora do corpo, é a preocupação constante se os nossos filhos estão bem, seguros e saudáveis.
Saber que há situações que não estão sob o meu controle, e que não os poderei proteger de tudo e todos, como eu desejaria.

Outro desafio é educar, passar as minhas crenças e valores.
A responsabilidade de fazer com que os nossos filhos sigam uma boa conduta e conseguir dar-lhe as melhores ferramentas possíveis para serem felizes!

O que gosto mais em ser mãe?

O amor que há entre mim e os meus filhos é a melhor sensação do mundo! É um amor puro, eterno, incondicional, sem cobrança e sem expetativa.
É lindo vê-los crescer, desenvolver, …

Acompanhar os seus passos e ver que eu contribuí para isso.
Saber que eu fui responsável por educar e ensinar aquela pessoa incrível é muito gratificante, é sentir cada conquista dos meus filhos como se fosse minha.

Que tipo de mãe sou?

Cada mãe tem um jeito de ser e lidar com seus filhos. Não existe jeito certo ou errado! Ainda assim, as Mães possuem uma característica em comum que é querer a felicidade dos filhos!

Algumas características minhas como mãe sei que estão intimamente ligadas ao facto de ter sido mãe de dois em simultâneo. Essa condição acionou em mim mecanismos de atenção e cuidados dobrados, e um estado de alerta mais marcado.

Senti necessidade de adotar uma disciplina e regras que me ajudaram muito no processo de cuidar de duas crianças da mesma idade e com as mesmas necessidades ao mesmo tempo. As mães de múltiplos entenderão perfeitamente o que digo.

No entanto, outras características têm haver com a minha personalidade e com o que considero que é melhor para os meus filhos, e outras adquiri pelo exemplo que tive em casa, da minha mãe.

Considero-me uma mãe muito atenta, cuidadosa e dedicada. A minha prioridade é o bem estar e a felicidade dos meus filhos, não havendo impossíveis para os alcançar!

No dia a dia, sou aquela mãe que:

  • De manhã deixa os filhos dormir mais um pouco, mesmo que isso nos leve a atrasar, e ter que andar a correr e debaixo de stress. Que lhes dedica 50 minutos na preparação para a escolinha com tudo o que considero importante e necessário, e a si 10 minutos apenas;
  • Faz muito gosto em ter os seus filhos bem arranjados, mas preocupa-se mais com o seu conforto. Daí que os meus filhos vestem mais rapidamente um fato de treino do que calças de ganga e camisa. No Verão, predominantemente calções e t-shirt. No Verão não importa que não tenham o corte de cabelo mais “fashion”, importa sim que não tenham muito calor e transpirem muito;
  • Tem em atenção às diferenças de temperatura, adaptando o vestuário à temperatura que se faz sentir no ambiente onde estão;
  • Vai oferecendo água ao longo do dia, mais vezes no Verão;
  • Anda sempre com um lanche, água e uma muda de roupa para onde quer que vamos;
  • Não deixa os filhos saírem à rua sem um chapéu na cabeça (à exceção de quando não está sol);
  • Evita dar doces aos seus filhos. Preocupa-se que não comam alimentos com muito açúcar porque para além da idade prematura, e o açúcar em excesso ser prejudicial, os meus filhos são netos de avô paterno e avó materna diabéticos tipo 1. Isso exige uma especial atenção (é uma doença que passa de avós para netos, logo, são crianças de risco), no entanto, também abre mão de vez em quando.;
  • Tenta fazer sempre uma refeição de peixe e outra de carne por dia e que tenham uma dieta saudável;
  • Sempre respeitou o descanso dos filhos e suas necessidades, regendo a sua vida e rotinas por estes;
  • Está sempre atenta, e que fica um pouco ansiosa quando estamos no meio de uma multidão com receio de os perder de vista;
  • Os alerta com alguma regularidade para alguns perigos;
  • Que apesar de saber que é comum caírem e magoarem-se na infância, prefere prevenir que aconteça;
  • Tenta poupá-los de algumas preocupações e medos, mas que ao mesmo tempo, adaptando a linguagem e sem entrar em detalhes desnecessários, os elucida e prepara para situações que podem acontecer para evitar que sofram mais;
  • Faz todos os possíveis para que nada falte aos seus filhos, ainda que isso exija por vezes algum esforço, a nível da saúde, educação, alimentação, vestuário e calçado, atividades de lazer…;
  • Se fica preocupada com seus filhos quando os deixa no infantário por alguma razão, manda uma SMS ou liga à educadora a perguntar como estão;
  • Adora conversar, brincar e passear com seus filhos;
  • Canta alto no carro, dança e faz muitas macacadas com os seus filhos;
  • À noite pode estar de rastos, mas arranja forças para contar uma história ou cantar uma música, e ainda dar um colinho quando pedem;
  • Fica com muitos remorsos quando não consegue ter a disponibilidade de tempo e de espírito para dedicar a atenção que eles merecem;
  • Se levanta algumas vezes de noite para ir ao quarto dos filhos ver se estão bem e tapados;
  • Quando os filhos vão para a sua cama, fica por vezes deitada na barra desta ou só num bocadinho de colchão para os filhos estarem à vontade, e quase não se mexe para não os acordar;
  • Que anda de bicos de pé à noite para a madeira do chão não “ranger” enquanto os filhos dormem;
  • Que apesar de todos estes cuidados e atenção, dá-lhes a “liberdade” possível para desfrutarem da sua infância;
  • Fica ainda muito grata e reconhecida aos que gostam e tratam bem dos seus filhos. Por outro lado, se tiver conhecimento de atitudes menos corretas para com eles, é acionado automaticamente o seu instinto de “leoa”;
  • Entre outras…

Acredito ser parecida neste jeito de ser a muitas mães e diferente de tantas outras.

Certeza porém é que sou uma mãe que ama muito os seus filhos e que é capaz de conquistar o Mundo para os ver bem e felizes! ❤❤

Quando me questiono se estou a fazer um bom trabalho, busco a resposta nos meus filhos, e vê-los felizes, diz-me que sim! ❤❤

Como encaro a maternidade em relação à carreira profissional?

No meu caso, não tive hipótese de escolha, mas se pudesse optar por seguir ou não a minha carreira, optaria por seguir, ainda que de forma mais equilibrada.

Apesar de ser cansativo devido à dupla jornada, e o facto de não termos o tempo que gostaríamos para os nossos filhos, acho importante não estar 24h com eles, tanto para o seu desenvolvimento, como para proteger um pouco a minha individualidade que depois de ser mãe é um desafio.

O ideal era conseguir um maior equilíbrio entre a carreira e a maternidade. Dedicamos muitas horas ao nosso trabalho e não conseguimos dedicar o tempo e atenção que gostaríamos aos nossos filhos.

Quando somos mães passamos a viver maioritariamente esta função, deixando bem escondido “algures numa gaveta” o ser mulher.

Acho importante manter a vida profissional e a de mulher com projetos e sonhos porque me ajuda a manter parte da minha individualidade. Isso faz de mim uma mãe melhor, e os meus filhos mais autónomos e independentes.

No entanto, admito não ser fácil conciliar os dois lados, pelas exigências de cada um, com a agravante da que fazemos a nós próprias, talvez a maior. Queremos dar o nosso melhor nos dois lados e isso resulta num grande desgaste físico e psicológico.

Mas acredito que será estando bem comigo mesma e comas minhas escolhas, sejam elas resultantes de sucessos e/ou derrotas, que ensinarei aos meus filhos importância de apostar em sonhos e desejos, a importância de confiarmos na nossa capacidade de escolha e na força de recomeçar se preciso for. Será em cada tentativa genuína de realização que ensinarei que a coragem é coisa essencial na vida e que precisamos a cada instante buscá-la dentro de nós para seguir em frente.

Eles aprenderão e valorizarão a importância do trabalho ao mostrarmos as conquistas advindas deste, como a nossa realização profissional e as alegrias originárias dessas relações como o alimento, vestuário, passeios, roupas, brinquedos, e tudo mais que formos conquistando com os resultados dessa realização profissional.

Claro que é fundamental conseguirmos tempo de qualidade com os nossos filhos, o que não é fácil quando se tem uma carreira profissional. Mas com mais ou menos esforço, conseguimos conciliar da melhor forma possível.

O que aprendi com a maternidade?

Ser mãe é experimentar uma mistura de sentimentos: é ficar alegre e insegura ao mesmo tempo, mas descobrir que existe uma grande força dentro de nós.
A maternidade é uma experiência repleta de descobertas, conquistas e aventuras.
A maternidade ensinou-me:

Que as prioridades mudam: o que antes parecia imprescindível, hoje não tem assim tanta importância. A minha prioridade agora são os meus filhos e o seu bem estar!

A ser uma pessoa mais forte e resiliente: a maternidade traz uma força enorme para as mulheres que, muitas vezes, nem elas sabiam que tinham.
Descobri que ser mãe é instintivo. Reconheço cada choro, sorriso, olhar e gesto.
A vida de uma mãe é árdua, mas é muito gratificante. Ser forte é uma necessidade porque sou o porto seguro dos meus filhos.

Um dos meus filhos disse-me a seguinte frase recentemente: “Mamã, tu não podes morrer porque tens que tomar conta dos meninos!” – Expressão inocente, mas que acaba por ir ao encontro do pensamento de uma mãe. Temos que estar presentes e sempre aptas para responder às necessidades dos nossos filhos!


A superar os próprios limites: como disse anteriormente, o nascimento de uma criança muda as prioridades de uma mãe/de uma família. Mas com isso, as mães também percebem que é possível superar limitações e dificuldades – tudo por um bem maior.
Conseguimos por exemplo inibir certas necessidades básicas como a sede, fome e sono, quando precisamos de estar em estado de alerta pelos nossos filhos (por exemplo quando estes se encontram doentes).

Antes de ser mãe acharia impossível aguentar tal condição, hoje comprovo que é possível sim! Superamos os nossos limites e vamos buscar forças inimagináveis por eles! Se não fosse pelos nossos filhos, não aguentaríamos! Eles são o motor da nossa força física e psicológica.


A ter mais empatia: no universo da maternidade, há muitas mulheres que julgam as atitudes de outras mães. Mas, apesar disso, existem pessoas que estendem a mão e exercitam a empatia.

Depois que passam pela experiência de ter um filho, muitas mulheres entendem que, na prática, as coisas nem sempre acontecem como elas haviam idealizado e isso faz com que elas tenham uma compreensão melhor do que acontece ao seu redor. Eu própria compreendi melhor muita coisa só após vivenciar a maternidade. Aprendi que educar é muito difícil e exige dedicação e paciência.

O que eu acho certo para os meus filhos talvez não seja o mesmo que outras mães acham, e eu devo respeitar isso, e vice versa.

Mudança de perspetiva sobre a vida (aprendendo ao longo da vida, reforçada com a chegada da maternidade): a maternidade aguça-nos a maturidade, tornamo-nos mais confiantes e corajosas, ainda que nos deparemos com várias inseguranças ao longo desta caminhada. Parece contraditório, mas o que acontece é que apesar de algumas inseguranças, aprendemos a confiar no nosso instinto.


Desapego vira uma palavra diária: desapego das situações e pessoas que nos fazem sentir menos bem.

A maternidade só veio reforçar que viver com leveza e paz de espírito é melhor que qualquer coisa e status na vida, para além de lhes querer passar esse estado de espírito.

Hoje evito entrar em “guerras” que me desgastam e vejo que são infrutíferas, mesmo que a razão esteja do meu lado e desde que não me prejudique de forma significativa.

Percebemos que não temos que provar nada a ninguém. E por eles aprendemos a gerir da melhor forma possível sentimentos menos positivos.

Amar incondicionalmente: sentimos amor pelo marido, pelos pais, irmãos e amigos. Mas o amor que sentimos pelos nossos filhos é avassalador, único e imensurável.

Ouvi muito falar que só quem é mãe conhece o verdadeiro amor incondicional. Hoje sou a prova viva disso!

Aprendi a dar valor às coisas simples, e que um sorriso, um abraço, ou outro gesto de afeto dos nossos filhos, nos faz superar o cansaço e as dificuldades, e é o melhor da vida.

Aprendi que muitas vezes nós erramos, mesmo tentando acertar e que, por mais que nos esforcemos para tentar não errar, às vezes as coisas fogem do nosso controle. Aprendi também que a maternidade nos deixa em uma linha ténue entre o stress absoluto e o amor infinito, amor que eu desconhecia.

Termino com a seguinte frase:

“A minha felicidade depende da felicidade dos meus filhos!” ❤❤