No primeiro capítulo da amamentação descrevi a minha experiência enquanto mãe gémeos, e neste, pretendo dar a minha opinião sobre o tema baseada nessa experiência e nas minhas convicções.
A amamentação é sem dúvida um tema que gera controvérsia e abordado ainda de uma forma fantasiosa. Há tendência a omitir a parte mais difícil e que traz sofrimento.
Sinto que as mamãs receiam falar desse lado mais sombrio com receio de serem julgadas, mal interpretadas e pouco ou nada compreendidas.
A dificuldade em falar de forma aberta e transparente sobre o assunto, na minha opinião, deve-se ao estereótipo da amamentação que a nossa sociedade criou: “amamentação perfeita = mãe perfeita”. E não é de todo correta essa associação.
São “impostas” algumas diretrizes na amamentação e as mães têm receio e falta de coragem de falar sobre o que realmente pensam e praticam. Como por exemplo, é-nos incutido que a mãe tem que dar leite materno exclusivo, e que não deve dar leite de fórmula/suplemento, entre outras.
É verdade que a ser possível alimentar o bebé com leite materno exclusivo, nos primeiros meses de vida, é mais benéfico, no entanto, e por diversas razões, nem sempre é possível fazê-lo. E se não recorrêssemos ao leite de fórmula, haviam bebés subnutridos ou que morriam de fome.


Eu e outras mamãs de gémeos somos alguns bons exemplos da necessidade em recorrer ao leite de fórmula.
Os desafios adicionais quando se amamenta mais do que um bebé incluem o tempo (ou a falta dele). Com as inúmeras tarefas em dobro e a falta de descanso, alimentar os bebés com leite materno exclusivo pode ser uma tarefa muito difícil e demasiado extenuante.
Para além desse fator, e no meu caso em particular, o facto de ter sido submetida a uma anestesia geral quando fiz a cesariana, o meu estado não permitiu o contacto pele a pele nas primeiras horas com os meus bebés. E deste modo, no primeiro dia de vida, os meus filhos alimentaram-se apenas com leite de fórmula. Nos seguintes, a maioria das vezes também, pela dificuldade da pega e sucção. A extração do leite com a bomba também era um processo difícil e demorado pelo facto das minhas mamas estarem empedradas.
Outro entrave que tive para alimentar os meus filhos com leite materno exclusivo foi o facto de ter um mamilo preguiçoso, e mesmo com estimulação ficava pouco saliente, dificultando-lhes mais ainda a pega. Ou seja, começaram a rejeitar essa mama e alimentavam-se mais da outra.
Essa condição também dificultava o processo de extração de leite com a bomba nessa mama, uma vez que o mamilo estava demasiado massacrado pelas tentativas falhadas da pega por parte dos meus filhos. A partir de uma certa altura, era essencialmente a mama direita que alimentava os dois bebés, o que seria insuficiente se não recorresse ao leite de fórmula. Não precisava de dizer que também o mamilo da mama direita ficou em mau estado por ser o mais procurado.
Tenho conhecimento de mamãs que recorreram também ao leite de fórmula nas primeiras horas porque a descida do leite (ordem hormonal do cérebro para as mamas e traduz-se na passagem do colostro para o leite de transição) que por norma se dá entre o 3º e o 5º dia do pós parto, demorou um pouco mais do que o esperado.
Existem ainda contraindicações temporárias para a amamentação exclusiva, como herpes e candidíase nas mamas ou uso de alguns medicamentos….
Entre as razões físicas, e não menos importantes, existem também as psicológicas/emocionais. Estas últimas associadas à idealização da amamentação, à expectativa e cobrança por fazer tudo certo, a maioria das vezes.
O baby blues (tristeza após o parto) e a depressão pós-parto são condições psicológicas que contribuem para que muitas mulheres tenham dificuldade tanto na produção de leite quanto na amamentação em si.
Quando vemos aquela imagem num folheto, revista ou até anúncio publicitário de uma mãe a amamentar o seu bebé com um sorriso estampado no rosto, toda arranjadinha, transmitindo a maior tranquilidade e alegria do mundo, a ilusão que dá é que a amamentação é algo maravilhoso, simples, totalmente natural e intuitivo. Como se fosse um talento nato das mulheres.

O que quase ninguém conta é que, na maioria dos casos, não funciona assim. As dificuldades, principalmente no início da vida do bebé são reais e não são poucas. E várias mães desistem de amamentar, essencialmente por falta de informação e de apoio porque sofrem com a pressão, frustração e incompreensão que vem da família, da sociedade e de si mesmas.
É possível encontrar a solução no apoio da família e de profissionais da saúde quando a situação fica pesada para o dia a dia. E as mamãs não devem censurar-se por estarem com dificuldade ou precisarem de ajuda. Nenhuma mulher nasceu a saber ser mãe, a saber amamentar! Pelo contrário, deve orgulhar-se por estar a fazer tudo o que está ao seu alcance para conseguir o melhor para o seu filho, não descurando também a sua saúde e bem-estar.
É verdade que a fase mais dolorosa, por norma, é temporária, mas por vezes este processo é mais moroso do que o habitual, prolongando assim o sofrimento. Quando assim é, e a mamã está a ser fortemente afetada em termos de saúde física e mental, devem ser ponderados os prós e contras quanto ao prosseguimento da amamentação, pois o sofrimento que a mãe está sujeita refletir-se-á na criança e poderá ser muito prejudicial para ambos.
É importante salientar que os limites de cada pessoa, tanto físicos como psicológicos são imensuráveis e incomparáveis. E esses limites devem ser respeitados e sinto que não são.
Apesar de eu ter sofrido aos dois níveis na amamentação, e praticamente ao longo de todo o processo, defendo que todas as mães devem tentar amamentar e não devem desistir às primeiras dificuldades porque uma vez conseguida e ultrapassada a fase mais difícil, trará muitos benefícios para ela e o seu filho, podendo ser muito compensador. Com a informação e apoio adequados, a amamentação pode ser um processo mais fácil e menos doloroso.
Conforme relatei no 1º capítulo da amamentação, apesar das grandes dificuldades com que me deparei neste processo, consegui alimentar os meus filhos com leite materno (não exclusivo) até aos oito meses. Na altura, “crucifiquei-me” um pouco porque queria ter conseguido amamentar mais tempo, mas hoje, sinto-me perfeitamente bem porque estou ciente que dei o meu máximo e melhor.
No entanto, reconheço que me deixei afetar na altura pela pressão que senti de terceiros e a imposta por mim própria pelo desespero em conseguir oferecer o melhor para os meus filhos, o que não é difícil porque nos encontramos fragilizadas física e psicologicamente. E por isto mesmo, hoje sinto necessidade de vos dizer: Olhem para o que eu digo (escrevo), e não para o que fiz!
Cabe a cada uma avaliar e tomar a decisão que achar melhor para si e o seu filho. O que é melhor para um par mãe-filho, não é necessariamente o melhor para outro par, depende de vários fatores. A mãe deve seguir o seu instinto, que numa condição normal, é o mais acertado. O essencial é o equilíbrio entre o bem-estar da mãe e do filho.
Infelizmente, as mães que não conseguem amamentar pelas mais variadas razões são julgadas e responsabilizadas como se fosse apenas uma questão de opção, o que não está correto. E apesar de serem livres, e terem o direito de escolher amamentar ou não, acredito que não seja uma questão de “opção” para a maioria que não é bem sucedida!
Sabemos que o leite materno é um bem precioso e essencial que damos aos nossos filhos, no entanto, é importante salientar que eles precisam de uma mãe saudável. E exigir mais do que as nossas capacidades, pode levar-nos a um ponto de rotura, de forma a não conseguirmos cuidar dos nossos filhos adequadamente e/ou até sermos mesmo forçadas a deixar de prestar cuidados, e isso sim, seria muito penoso.
É importante termos a noção que o leite materno sofre transformações ao longo do dia e da mamada, com o objetivo de responder mais eficazmente às necessidades do bebé, sendo influenciado pelo estado de espírito da mãe e a sua alimentação.
É verdade que o leite materno funciona como uma “vacina” para o bebé, ajudando a reforçar significativamente o seu sistema imunitário e como já referi, a ser possível a amamentação, pelos menos nos primeiros seis meses de vida, será sempre muito benéfico para a criança. E quando ultrapassada e se ultrapassada a fase mais difícil, é uma experiência muito positiva para a mãe e bebé, permitindo uma ligação especial entre ambos.
Mas apesar do leite materno ser um “cocktail maravilhoso de anticorpos” para a criança, não quer dizer que a criança não vá crescer de forma saudável quando não é possível alimentá-la com leite materno ou pelo tempo desejável/recomendado. Este crescimento saudável depende de vários fatores, não menos importantes que o consumo de leite materno.
Para além da “herança genética” ser muito importante, adotar uma rotina saudável e plena é muito benéfico em termos de saúde. Destas rotinas saudáveis fazem parte uma alimentação equilibrada (exs. restrição de alimentos ricos em açúcar e gordura, beber água, aposta nas verduras, legumes e frutas); atividades físicas regulares; rotina de sono estável/saudável para promover o descanso necessário da criança (inclui as sestas, dependendo da idade e necessidade da criança); hábitos de higiene, entre outros.
De que adianta a criança beber leite materno até aos dois anos de idade, se não lhes for incutidos outros hábitos saudáveis e igualmente importantes ao longo da sua infância?
Os meus conselhos para as recém – mamãs a nível da amamentação são:
– Tente levar o processo de forma serena e com o pensamento de que vai fazer o melhor que consegue em prole da sua saúde e do seu filho. Certamente que o resultado será o melhor e o mais acertado;
– Peça apoio à família e orientação aos profissionais de saúde;
– Partilhe experiências com outras mamãs que superaram os desafios da amamentação e outras em iguais circunstâncias;
– Decida o que é melhor para si e o seu filho, e não o que a sociedade espera de si.
Ser Mãe é reunir esforços para proporcionar o bem estar e o melhor para a saúde dos seus filhos, mesmo que, por algum motivo não tenha conseguido dar leite materno ou pelo tempo que desejaria. Importante lembrar que para conseguirmos proporcionar o melhor para os nossos filhos, também temos que nos sentir e estar bem!
Acreditem e confiem que todas as vossas decisões são as melhores para os vossos filhos! ❤
