A chegada a casa com dois bebés (Pós parto: parte III)

Esta foi uma fase muito delicada e difícil para mim! Aqui cheguei muitas vezes ao meu limite físico e psicológico, e nos vários momentos que pensei que não aguentava mais, a mãe natureza mostrou-me que sim. Aprendi que a maior força de uma mãe vem do amor que ela sente pelos filhos, sendo este capaz de “mover montanhas” e resistir às mais fortes “tempestades”. ❤ ❤
Também é um capítulo que me toca especialmente, pois foi aqui que surgiram os primeiros rabiscos e registos no telemóvel, a título de desabafo, como se me auto confessasse. Mais tarde dariam origem a este blog, Confissões de Mãe e Mulher.
Estes registos escritos serviram-me de terapia, ajudando a aliviar um pouco a angústia que sentia em silêncio.

Adaptação à nova realidade

Depois do parto e de passar uma semana na maternidade, onde eu pude contar com apoio e orientação médica, chega o momento de voltarmos para casa, e no nosso caso, levando dois bebés nos braços. 

É normal que os pais, especialmente os de “primeira viagem”, enfrentem dúvidas, medos e inquietações quanto aos cuidados do bebé e à nova realidade familiar. Com dois bebés estes sentimentos duplicam.

Eu e o meu marido chegámos a casa com uma enorme sensação de insegurança! Para além de alimentar, dar banho, curar o umbigo, trocar fraldas e tudo mais que fosse necessário, tínhamos que aprender a conhecê-los, saber por que choram, quando têm fome ou sono, e sabermos comunicar com eles. Algo comum a tantos outros pais de primeira viagem, mas no nosso caso era x2. Eu tinha uma preocupação acrescida, como faria essa “ginástica” física e mental ainda em recuperação, tão débil e cheia de dores (?). 

Na minha mente também ainda pairavam as mesmas dúvidas que na gravidez: “Vou conseguir dar a resposta adequada aos dois? Conseguirei não lhes faltar com nada? Serei capaz?”

Ia exigir de mim capacidades que eu descobri mais tarde ter e nem sabia: muita paciência, gestão da ansiedade e do stress (nem sempre), aguentar as horas de sono em falta e o cansaço extremo, passar muitas horas sem comer, sem beber, a embalá-los, dias sem tomar banho, entre outras.

Todos os nossos receios e preocupações foram rapidamente “abafados” por termos que “meter mãos à obra”. Não havia tempo para grandes reflexões, teríamos que nos desenrascar e cuidar dos nossos bebés da melhor forma possível e que conseguíamos. E também não havia tempo para pensar na recuperação! Eu não podia repousar, fazer poucos movimentos e esforços, como seria o cenário ideal para uma mais rápida e eficaz recuperação. Apesar desta realidade, não deixara de ter dificuldade ou sentir dor nas tarefas realizadas com os bebés no dia a dia. 

As nossas rotinas mudaram drasticamente e a nossa casa deixou de ser “a casa de bonecas” que estava sempre arrumada e a brilhar (sempre gostei de ter a casa limpa, ainda hoje gosto, e limpava-a regularmente), começando a “perder forma” aos poucos. Gradualmente fomos adaptando-a e fazendo ajustes em prol das necessidades e conforto dos bebés, e para uma maior funcionalidade. 

Edredões e protetores laterais confecionados pela tia Lila.

A casa que antes do nosso regresso estava organizada, e o que tinha de indícios de bebés eram dois berços bonitinhos e arrumados, o trocador de fraldas e a banheira (o restante estava guardado nos armários), passou por uma revolução a partir do dia que chegámos. Começou a haver muitas fraldas, latas de leite (relembro que os meus filhos sempre fizeram alimentação mista), biberões, roupinhas de bebé, produtos de higiene e saúde dos bebés, entre outros. A azáfama também passou a ser uma constante em nossa casa. Tudo girava à volta dos nossos bebés.

Nos primeiros dias, meses, não havia uma rotina estabelecida, as coisas aconteciam a “toque de caixa” e era a “lei do desenrasque”. A nossa prioridade e preocupação era conseguir saciar-lhes as necessidades básicas: alimentação, higiene, descanso e tentar ajudá-los quando percebíamos que estavam desconfortáveis com algo (tentativa-erro). Gradualmente fomo-nos adaptando a esta nova realidade e ganhando algum traquejo. “A necessidade aguça o engenho e leva-nos a encontrar soluções.” (Um dos meus lemas de vida!)

Após a “confusão inicial”, e de forma automática, começámos a criar as nossas rotinas. Estas eram regidas essencialmente pelos horários que os bebés faziam de sono. De seguida vinham as mudas de fraldas, os banhos, a amamentação, etc…etc…

Foram largos meses muito difíceis, de um stress e pressão que eu jamais teria imaginado! Conseguir entrar neste ritmo louco e acelerado, e nesta nova rotina, exigia muito de nós física e psicologicamente. Tentávamos fazer o máximo possível de tarefas com os bebés ao mesmo tempo: alimentação, medicação, troca de fraldas, colocar a dormir,… para ganharmos algum tempo para outras necessárias. Quando um bebé acordava antes do outro, “dificultava-nos mais a vida”.

Para nossa melhor orientação, continuámos a seguir uma tabela que nos recomendaram e iniciámos na maternidade. Nesta registávamos a hora que mamavam, quantidade e tipo de leite, se faziam cocó, chichi, o número de vezes e mais algum dado relevante.

O aspeto não é o melhor, mas é a tabela original (parte).

Rapidamente percebemos que esta jornada seria longa, complexa e muito trabalhosa: trocávamos a cada bebé, em média, 8 fraldas por dia, ou seja, pelo menos 16 vezes/dia. Fora dar de mamar, fazer arrotar, dar banho, vestir, embalar, colocar a dormir…Ufa! Tudo em dobro! Ainda precisávamos que sobrasse algum tempo para podermos comer, dormir, tomar banho, tirar leite com a bomba, já para não falar da higiene mínima da casa porque a arrumação era negligenciada para meu desagrado, mas o tempo não dava para tudo. Muitas vezes não sobrava tempo algum e ficávamos dias sem tomar banho, mal nos alimentávamos, e dormir era algo que nos assistia muito pouco. Dormíamos pouco ou nada!

O meu marido esteve sempre a par comigo no desempenho das tarefas. Mesmo quando regressou ao trabalho, assim que chegava a casa ao final do dia, vestia o “fato de super pai” e envolvia-se em tudo o que era necessário fazer.
Uma vantagem de quando se trata de um só bebé é que o casal pode descansar alternadamente para recuperar energias e dividir “plantões”. Aqui tínhamos que estar os dois sempre ativos, não havia lugar a descanso, o que tornava tudo mais difícil e era muito desgastante.

Muitas mulheres manifestam o seu descontentamento pelo facto de se sentirem sobrecarregadas em relação ao pai da criança. Eu não posso dizer o mesmo e também não seria comportável de outra forma com dois bebés. O meu marido fazia tudo o que eu fazia, e até na hora de alimentar, enquanto eu dava mama a um, ele dava biberão a outro. Tínhamos o mesmo nível de desgaste físico e psicológico, a mesma falta de descanso e de tempo para as nossas necessidades de saúde e higiene. A agravante do meu lado era o meu estado físico ainda muito debilitado e as dores que sentia, por estar a recuperar da cesariana.