Quando o corpo clínico decidiu fazer-me um parto por cesariana, pelas induções a que fui sujeita sem sucesso, o objetivo era fazê-lo com anestesia epidural, mas apesar de terem tentado essa técnica anestésica, não resultou comigo.
Colocaram-me o cateter na zona lombar, injetaram-me o anestésico duas vezes, e o mesmo não atuou. Continuava a sentir as minhas pernas. De repente, a médica disse-me muito apressada: “Daniela, desculpe, vamos ter que proceder a uma anestesia geral e não podemos demorar muito tempo!” Hoje sei o motivo da pressa. Na anestesia geral, a medicação passa pela corrente sanguínea da mãe, ultrapassa a placenta e chega ao bebé, o que não acontece com a epidural. Por este motivo, a cesariana com anestesia geral deve ser realizada no menor espaço de tempo possível para evitar riscos para o bebé. É um método utilizado apenas em casos de emergência como complicações de saúde para a mãe e bebé, e se a anestesia local não resultar ou não for indicada.
Lembro que me deitaram numa maca “gelada”, muito estreita, e amarraram-me pernas e braços em cruz. Colocaram-me uma máscara de oxigénio e terão injetado a anestesia (a geral é por via intravenosa, daí chegar rapidamente à placenta), mas disso já não me apercebi. Mas ainda antes de adormecer, vejo um grupo de pessoas à minha volta, médicos, enfermeiras e auxiliares, tudo num alvoroço, a falar entre si. Como estavam todos de máscara e devidamente equipados, só lhes via os olhos, ou seja, se estivessem a sorrir para mim (expressão que me confortaria), eu não conseguia ver.
Eu não tive tempo de pensar, foi tudo muito rápido, apenas tremia de frio, nervos e medo!
Nunca tive um parto normal, apesar de ter assistido ao do meu primeiro sobrinho, mas não é o mesmo que vivenciá-lo na primeira pessoa.
Sobre o parto por cesariana, o único que experimentei, posso dizer que é um procedimento frio, impessoal, sem qualquer magia ou emoção, em particular quando se leva uma anestesia geral, como no meu caso, em que não vemos os nossos filhos nascer. Um momento que devia ser especial, é tudo menos especial. Estamos no bloco cirúrgico sozinhas, sem o marido ou alguém familiar para nos confortar, uma sala fria, deitadas numa maca fria, a tremer de frio e de medo, com pernas e braços amarrados, apenas rodeadas de pessoas desconhecidas e de cara tapada a fazer barulho (aparato assustador), até que deixamos de ver, “apagamos”.
Resta-nos confiar o nosso destino e o dos nossos filhos “àquelas pessoas de cara tapada “!
A médica diz que a minha cesariana foi rápida porque eu tinha pouca camada de gordura na barriga. Demoraram sensivelmente 20 minutos a tirarem-me os bebés e entre 45 minutos a 1 hora, no total, considerando o tempo despendido com os restantes procedimentos para a conclusão da cirurgia. O fecho da incisão foi feito com dezassete agrafos.
Segundo experiência clínica, mulheres que recebem anestesia geral durante as cesarianas têm uma probabilidade significativamente maior de sofrer depressão pós-parto grave porque a anestesia geral pode atrasar a amamentação e a interação física entre mãe e bebé, e muitas vezes resulta numa dor mais aguda e persistente após o parto. Confirmo tudo, à exceção da depressão, apesar dos muitos momentos de angústia, ansiedade, cansaço extremo, entre outros. A parte do contacto físico e amamentação, pude comprovar, e além de ser muito triste e ficarmos com um sentimento terrível de impotência, não é benéfico para a mamã e bebé. Falar-vos-ei destes temas em outro artigo.
Portanto, para quem pensava que o parto por cesariana, e com anestesia geral, seria o “parto ideal”, um “parto sem dor”, engana-se! No meu caso só não senti dor durante o ato cirúrgico e enquanto anestesiada, pois foi uma cesariana de emergência, não programada, pela indução de parto malsucedida. Para além dos inúmeros riscos e desvantagens associados à anestesia geral.
Pós – Parto: Parte I
Quando acordei, estavam a levar-me do bloco cirúrgico para o quarto. Mal conseguia abrir os olhos de tão pesados que estavam e sentia muito sono.
Ao atravessar a sala de espera do bloco de partos, as enfermeiras tocaram-me para me despertar, dizendo: “olhe os seus meninos, tão bonitos!”. Com grande esforço tentei abrir os olhos, e com alguma “névoa”, vi os meus dois bebés ao colo do pai, mas fechei de imediato os olhos.
Era incrível o peso que sentia nos olhos, não conseguia mantê-los abertos. Pensei ser da anestesia apenas, mas depois tomei conhecimento que também era pelo meu estado de fraqueza inerente à anemia que se teria acentuado durante a cirurgia.
Foi um momento estranho e vazio de emoção pela condição em que me encontrava! Não conseguia pensar, nem sentir! Tinha muito sono e o corpo estava entorpecido. Só conseguia estar de olhos fechados e queria dormir.
O que tem isto de especial e mágico? Nada! Para além desta ausência de emoção quando vemos pela primeira vez os nossos filhos, também o contacto físico e ligação entre mãe e filhos tardios, é o que acontece numa cesariana com anestesia geral. Ainda me puseram um bebé nos braços para esse contacto, e tentaram colocar os dois nos meus peitos para os amamentar, mas como eu não tinha forças para os agarrar, tiraram-nos de imediato. Disto também não me lembro, o meu marido contou-me.
O primeiro colo que os meus filhos conheceram foi o do pai (não podia haver melhor substituto ao meu) e as primeiras mamas que conheceram foram as tetinas dos biberões.
Pouco tempo depois de chegar ao quarto, tive que levar duas transfusões de sangue porque os valores da anemia continuavam altos. Eu estava fraca, pálida, com a tensão baixa e o ritmo cardíaco acelerado.

Eu ainda não sabia, mas o maior desafio da minha vida estaria a começar agora! ❤ ❤