
Quando eu e o meu marido fomos submetidos a investigação clínica para identificação de possíveis causas de infertilidade, nenhuma foi diagnosticada. Mas na verdade, muitos outros casais que enfrentam esta difícil realidade podem contar com inúmeras causas. Segundo pesquisa que fiz, e alguns médicos com quem falei ao longo do meu percurso de tratamentos, a maioria dos casos de infertilidade resulta de problemas de ovulação. Uma das causas mais comuns é a síndrome do ovário poliquístico, um problema que gera um desequilibro hormonal que interfere com a ovulação. Outra causa comum é a insuficiência ovariana primária, uma situação que ocorre quando os ovários deixam de funcionar normalmente antes dos 40 anos de idade. Mas existem outras causas, nomeadamente a endometriose, fibromiomas, pólipos do útero, doença inflamatória pélvica, doenças da tiroide, antecedentes de interrupção voluntária da gravidez ou abortos de repetição. Felizmente, não me foi diagnosticada nenhuma destas patologias. A idade é também um fator importante, como referi no artigo anterior, com o passar dos anos os ovários tornam-se menos capazes de libertar óvulos, o número de óvulos e sua qualidade é menor. Também no sexo masculino há fatores que podem influenciar a fertilidade, tais como certos hábitos de vida como o consumo de álcool, tabaco, o stress, a má nutrição, o excesso de atividade física e problemas de peso, podendo levar a uma diminuindo da produção e a qualidade dos espermatozoides. Além de poder estar relacionada com os hábitos de vida, a infertilidade do homem também pode ser devida a alterações no sistema reprodutor, infeções, alterações hormonais ou genéticas
Segundo recomendação dos profissionais de saúde, o casal deve recorrer a orientação médica quando após um ano de vida sexual ativa, sem utilizar métodos contracetivos, não consegue engravidar.
Além deste, outros fatores devem ser tidos em conta, aquando se toma a decisão de procurar ajuda clínica:
- Mulheres que têm ciclo menstrual irregular com evidências de ovulações irregulares ou ausentes;
- Mulheres que têm um histórico de abortos espontâneos;
- Mulheres com mais de 35 anos;
- Mulheres com histórico prévio de infeção pélvica ou outros problemas ginecológicos identificados como endometriose;
- Outros problemas diagnosticados ou cujos sintomas sejam relevantes.
Eu e o meu marido quisemos saber se estava tudo bem connosco porque já estaríamos há sensivelmente 3 anos a tentar, sem sucesso.
Quando um casal procura orientação médica para averiguar possíveis causas de infertilidade e identificar possíveis soluções, o processo inicia-se sempre pela investigação das causas por meio de exames de sangue, hormonais, espermograma, histerossalpingografia e exames de imagem específicos.
Após identificação, ou não, das causas, são orientados para o tratamento mais adequado à sua situação clínica.
Hoje, a infertilidade já não é considerada, regra geral, irreversível. Atualmente, cerca de 90% dos casais encontra solução para o seu problema graças à procriação medicamente assistida/tratamentos para a infertilidade.
São inúmeros os tipos de tratamentos destinados a tratar situações de infertilidade. Já referi alguns aquando descrevi os tratamentos a que fui submetida, no entanto, saliento os tratamentos mais comuns em Portugal:
Fertilização In Vitro (FIV): o encontro entre o óvulo e o espermatozoide acontece fora do corpo da mulher, no laboratório. Só depois o embrião é colocado no útero para que possa se desenvolver de forma saudável. Aqui é importante salientar que, apesar deste óvulo e espermatozoide se encontrarem fora do corpo da mulher, é de forma natural, não colocam junto ”pozinhos de perlimpimpim” para haver fecundação por magia. O objetivo e mais valia deste tratamento é que se consegue vários óvulos, através da previa estimulação ovárica, e vários espermatozoides, aumentando a probabilidade de fecundação. Para além disso, e uma vez que estão em meio de laboratório, é possível recolher apenas os que resultaram em embriões (houve fecundação), aumentando assim a probabilidade de gravidez. Todo este processo é acompanhado por técnicos especializados/embriologistas que avaliam o desenvolvimento e qualidade dos embriões, conseguindo apurar também se poderá estar nesta fase a causa da infertilidade. Os embriões selecionados são transferidos para o interior do útero da paciente. Esse procedimento também é realizado no laboratório de reprodução humana e dura, aproximadamente 30 minutos. Como já referi anteriormente, este foi o método utilizado por nós e bem sucedido. ❤
Injeção intracitoplasmática (ICSI): A microinjeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI, pelas suas siglas em inglês) recomenda-se nos casos de infertilidade masculina, possibilitando assim a fecundação. Este procedimento consiste na extração de um espermatozoide a partir de uma amostra de sémen ou através uma biopsia testicular para selecionar os espermatozoides mais adequados.
Doação de ovócitos: a mulher recorre a óvulos de uma dadora para poder conseguir realizar o desejo de ser mãe. Os ovócitos da dadora irão unir-se ao esperma do casal recetor (ou do dador) para obter embriões. Estes serão depois transferidos para a recetora. Esta técnica permite a gravidez em mulheres que, de outra forma, não poderiam ter filhos. O processo de doação é anónimo.
Os próximos dois métodos, de natureza menos complexa em termos invasivos, também foram experimentados por nós, sendo que a Estimulação Ovárica está presente em todos os tratamentos para aumentar as chances de sucesso.
Inseminação Intrauterina (IIU): tratamento relativamente simples e com bons resultados. Consiste na deposição de espermatozoides no interior da cavidade uterina, por meio de um cateter apropriado, quando há ovulação. Para provocar a ovulação, a mulher é tratada com medicamentos indutores da ovulação, normalmente por via injetável. O esperma do homem pode ser tratado, de modo a selecionar os espermatozoides com maior qualidade e capacidade de fecundação. Este terá sido o nosso segundo tratamento, sem sucesso.
Estimulação ovárica: esta terapêutica pode ser usada de forma isolada ou como complemento de outros tratamentos. Nos casos em que a infertilidade do casal é devida a um problema ovulatório da mulher, poderá ser recomendada apenas esta terapêutica hormonal e ser suficiente. O tratamento consiste essencialmente num período de estimulação ovárica, seguido de relações sexuais programadas pelo médico que acompanha o caso. Por norma, também é a terapêutica inicial e de teste, recomendada a todos os casais com causa de infertilidade desconhecida. Esta foi o primeiro método terapêutico recomendado clinicamente e adotado por nós, mas mal sucedido.
Segue a distribuição geográfica dos Centros de Serviço de Reprodução Públicos e Privados do nosso país, e respetivos contactos.
Centros de Serviço de Reprodução – Públicos e Privados

Para além de toda a complexidade deste processo, em termos emocionais e físicos, há também a componente monetária que tem um forte impacto nas famílias que tentam engravidar.
Apesar de nos Centros públicos os tratamentos serem gratuitos, não ficam baratos, devido à medicação inerente e que é necessária comprar. Mesmo esta sendo comparticipada em 70% aos beneficiários da SNS, o custo por casal x tratamento, fica cerca de 400€/500€ porque são medicamentos muito caros.
Para terem uma noção, e não estou a incluir os gastos com os tratamentos iniciais que passaram apenas pela hiperestimulação ovárica, gastámos sensivelmente 2000€, fora os gastos com as inúmeras viagens (combustível, portagens, alimentação). Se recorrêssemos ao privado ficaria ainda e bem mais dispendioso.
Nas clínicas privadas, o tratamento custa entre 4000 e 5000 euros (o custo dos medicamentos é o mesmo). Caso haja lugar a congelamento de embriões, acresce um custo de cerca de 500€. O casal só paga a totalidade do tratamento se as várias etapas forem todas ultrapassadas. Mas se tiver que iniciar novo tratamento por falta de embriões, voltam do zero. Há casais que gastam todas as suas poupanças e mais do que isso para conseguirem alcançar o sonho de ser pais. Um sonho que requer um grande esforço psicológico, físico e financeiro! Mas o que não se faz quando se deseja muito ter um filho? ❤
