São gémeos, e agora?

Como vos contei no artigo anterior, quando informei a médica ginecologista que me seguia em Coimbra, dos valores do teste de gravidez, esta desconfiou e alertou-me que podiam ser gémeos, porque o valor da hormona gonadotropina coriónica (hcg) era muito elevado para o tempo de gestação que tinha se estivesse grávida de um só bebé, daí os enjoos mesmo antes de obter o resultado do teste de gravidez (afinal não era um sintoma psicossomático). Segundo pesquisa que fiz, há desde os primeiros dias de gravidez um aumento significativo da hcg, esta produzida pela placenta e que regula o funcionamento das gónadas, as glândulas sexuais que produzem estrogénios e progesterona, para quando atingirem a hipófise, a produção de hormonas que estimulam a ovulação cesse. Esta hormona também atua no centro das náuseas, que se encontra no hipotálamo (uma zona do cérebro), daí as “famosas” náuseas/enjoos na gravidez. No entanto, o comum é após a 13ª semana de geração, esta hormona começar a diminuir e as náuseas começarem a atenuar até desaparecerem, numa dita “gravidez normal”. Em casos excecionais, como nas gravidezes múltiplas, podem perdurar mais tempo, em casos raros como o meu, vão até ao fim do tempo, e em casos muito raros, vão até ao final do tempo e de forma acentuada, como o meu caso também.

Chegou o dia de ir a Coimbra para realizar a minha 1ª ecografia. Ressalvo que continuei a ser acompanhada em Coimbra, uma vez que foi lá que fiz o tratamento.
Ainda um pouco incrédula em relação ao meu estado de graça, mas muito feliz, confesso que não tinha pensado muito na possibilidade de estar grávida de gémeos, a minha principal preocupação era a confirmação de gravidez por parte dos médicos. 

Quando entrei na sala da ecografia, começaram por dar-me os parabéns. Os casos bem sucedidos como o meu são motivo de grande orgulho e alegria para o corpo clínico do hospital, pois significa mais uma vitória, fruto do seu empenho e dedicação. Entretanto, a minha médica iniciou a ecografia. Viu com facilidade os dois saquinhos com os embriões dentro, e disse que estava tudo bem! Eu não sabia se havia de rir ou chorar de emoção, mas claro que apesar de, nem o momento, nem o local, serem os mais apropriados para digerir a notícia de uma gravidez gemelar, estava tão contente pela confirmação de gravidez, que me limitei a agradecer a contribuição de toda a equipa médica para que alcançasse o sonho de ser Mãe. Era enorme a felicidade que sentia por estar grávida e acima de tudo, por saber que estava tudo bem, pelo menos até ao momento. De repente, e sem que nada fizesse prever, a médica enquanto terminava a ecografia, fez silêncio durante uns largos segundos e uma expressão facial estranha, e disse-me: “espere mais um pouco porque parece-me que estes embriões têm companhia!” E eu perguntei (lembro-me como se fosse hoje): “Como?” (estou hoje a sorrir, mas no momento, fiquei muito confusa e assustada), e ela repetiu: “acho que os seus embriões têm companhia porque parecem ser três em vez de dois (pronto, o pânico instalou-se em mim). Hoje consigo rir deste e outros episódios, na altura, acreditem que não!

A médica continuou a observar com muita atenção, e depois de algum suspense e eu quase ter tido um “ataque de coração”, reformulou o que tinha dito, dizendo que afinal eram só dois, e deu-me uma explicação na altura, a qual já não me recordo, sou sincera. Filtrei, acima de tudo, o que importava: eram apenas dois … e respirei de alívio! ❤ ❤

A minha 1ª ecografia: 3 semanas de gestação (foi feita no Hospital de Aveiro devido a uma hemorragia que tive).

Quando eu e o meu marido entrámos no nosso carro para voltar a casa, olhámos um para o outro, e dissemos: “São gémeos! E agora?”.  A alegria era a dobrar, mas os receios, ânsias e dúvidas também! Nunca pensámos que os dois embriões vingassem, e ficávamos felicíssimos se apenas um vingasse, pois para quem tenta há muito tempo, engravidar por si só, é uma grande alegria, e nunca nos passou pela cabeça, na possibilidade de ser mais do que um. Em termos práticos, este novo cenário mudaria tudo na nossa vida, teríamos que repensar e reformular os nossos planos, inclusive pensar no orçamento familiar. Foi um misto de sentimentos: alegria, confusão, receio, muito receio, insegurança, euforia, entre outros. Mas para quem esteve tanto tempo a tentar engravidar, o sentimento de felicidade sobrepunha-se a todos os outros.

 Estaríamos prestes a iniciar uma grande aventura! ❤

Confesso que quando recebi a notícia, a minha principal preocupação foi em relação à gravidez. Era um pouco assustador saber que ia gerar e carregar dois seres no meu ventre. Como iria correr a gravidez? Os bebés e eu teríamos complicações?

A minha médica, antes de terminar a consulta, passou-me algumas informações e fez-me alguns alertas, nomeadamente que as gravidezes de múltiplos acarretam um maior risco de que surjam complicações durante a gravidez e parto, tanto para a Mãe como para os bebés. Pelos riscos associados, as gravidezes de múltiplos são consideradas de risco e requerem cuidado e atenção especial.

O que de mais importante retive dessas informações:

  • Os sintomas de uma gravidez múltipla, por norma são mais intensos.
  • Havia a grande probabilidade que, à medida que o tempo avançasse, viesse a sofrer de hemorroidas, hipertensão, diabetes gestacional, dores lombares e um cansaço extra e precoce, pelo peso da barriga ao carregar no meu ventre dois bebés.
  • A possibilidade de desenvolver pré-eclâmpsia.
  • A dificuldade da mulher levar a gravidez até ao fim, sendo frequente que os gémeos nasçam prematuramente. 
  • É uma gestação que necessita de um acompanhamento médico mais frequente e continuado.

Nada disto era muito animador e só vinha reforçar os meus receios, no entanto, ao longo da gravidez fui conquistando um espírito mais otimista e acreditei que tudo ia correr bem. Na verdade, este meu pensamento ficou menos otimista quando comecei a experimentar vários dos sintomas e complicações acima descritos, mas a minha preocupação agora, apesar de estar a perceber que não iria ser uma fase propriamente fácil (mais uma), estava virada para a saúde dos bebés. Estaria aqui a ter a primeira manifestação do instinto maternal, queria proteger aqueles seres a todo o custo e contribuir para que fossem gerados da forma mais saudável possível, nem que para isso eu tivesse que me sacrificar.  Assumi de imediato esse compromisso que é para toda a vida! ❤

(Aprofundarei a experiência da minha gravidez gemelar num outro artigo.)