40 anos – Idade da Loba?

Confesso que quando fiz 40 anos, senti-me nostálgica, como se tivesse chegado a uma idade que não me pertencia. Era também como se atingisse o marco em que “oficialmente” deixara de ser jovem (perdoem-me os mais velhos, mas era o meu estado de espírito no momento).

Pensamentos invadiram a minha cabeça tal como o estar a caminhar para o meio século, que metade da minha vida já tinha passado ou mais de metade, que a vida passa rápido de mais, entre outros… 

E se até aos 20/30 anos vivemos com a ilusão que somos imortais, à medida que a idade avança, passamos a ter cada vez mais a noção que não. 

Nunca pensei muito na minha idade e sempre gostei de celebrar a data do meu aniversário, ainda gosto, mas o ano em que fiz 40 anos foi diferente.

Foi mais um momento de reflexão como se o filme da minha vida passasse pela minha cabeça de forma acelerada.

Foi como se olhasse para o meu interior com intuito de encontrar o verdadeiro significado da vida, a necessidade de a viver com mais qualidade e pensar como posso contribuir para isso.

Terei chegado à fase conhecida como “idade da loba”, em que a mulher acrescenta às suas prioridades no papel de mãe, esposa e profissional a si também? Sem dúvida que a minha prioridade é e serão sempre os meus filhos.

O que na verdade sinto neste momento é a vontade/necessidade de olhar mais para mim, de me cuidar física e mentalmente, e mimar-me um pouco. Sei que ainda será difícil fazê-lo com filhos tão pequenos, mas tenho esperança que há medida que vão crescendo, e de forma gradual, eu vá conseguindo pequenas conquistas.
E quanto melhor eu me sentir comigo própria, mais e melhor serei para os meus filhos.

No dia 6 de Fevereiro deste ano, completei 42 anos, e continuo a ter muitos motivos para celebrar, para agradecer. Essencialmente pela família que tenho e o facto de estarmos de boa saúde, mais ainda nesta fase difícil que estamos a atravessar por conta da pandemia de COVID 19. 

Por vezes custa-me acreditar na idade que tenho porque me sinto com o mesmo espírito jovem de há 15 anos atrás. Também me sentia com a mesma energia dessa época até ter sido mãe de gémeos (riso). Neste momento confesso que me sinto um pouco em baixo de forma, pelo desgaste físico e psicológico, tendo que admitir que ser mãe aos 40 (tive os meus filhos aos 38 anos) não é o mesmo que ser mãe aos 20 e 30 anos. A maturidade intelectual pode jogar a nosso favor, mas a “maturidade física” já não (riso)! E ser mãe de gémeos aos 40 anos, é um desafio ainda maior!

Apesar de me sentir ainda com um espírito jovem, fui sofrendo ao longo da vida mudanças intrínsecas de acordo com a minha experiência e percurso de vida. Hoje sinto que sou mais serena e tomo decisões de forma mais racional, com menos impulsividade. 

Exteriormente, quando me olho ao espelho, já não vejo o mesmo rosto de há 15 anos atrás. Vejo um rosto mais cansado, em que muito se deve também à minha realidade atual, com as linhas de expressão mais marcadas, os cabelos brancos a aparecer (segundo me dizem devo sentir-me uma privilegiada) e algumas queixas físicas a surgir que antes não tinha. Mas vejo também uma pessoa mais sábia, segura, auto-confiante e ponderada. 

Apesar das mudanças internas que foram acontecendo, mantive a mesma essência, e desta sempre fizeram parte algumas características de que me orgulho. Gosto de praticar o bem e de contribuir para a felicidade dos outros. Sou uma pessoa honesta, leal, otimista, justa, persistente, resiliente, entusiasta, dedicada, responsável, grata, …

Tenho noção que tenho aspetos a melhorar e muito a aprender até ao resto da minha vida.

Continuo a ser uma apaixonada pela vida e pelas pessoas, apesar de já ter sofrido algumas desilusões e dissabores, tendo consciência que estes fazem parte da nossa caminhada e aprendizagem. 

À medida que fui ganhando mais maturidade fui desenvolvendo e aguçando outras características como a autoconfiança, determinação, equilíbrio emocional e autocontrole. 

Fui também mudando a minha perceção e postura perante alguns factos da vida (alguns exemplos):

Hoje tenho a noção que a opinião alheia, julgamentos e críticas no sentido depreciativo, não devem ser tomadas em consideração na tomada das nossas decisões, mas sim o que diz o nosso coração e a nossa cabeça, os juízes das nossas ações. Devemos apenas ouvir os conselhos de quem realmente nos quer bem e gosta de nós. No fim, o importante é estarmos bem com a nossa consciência e o nosso coração.

Passei a dar mais valor às atitudes do que às palavras, e consigo filtrar melhor as pessoas e o que me faz realmente bem. 

Não temos, nem conseguimos agradar a todos, e ao deixarmos de ter essa preocupação conseguimos mais paz e serenidade interior. Sei que faço sempre o melhor que posso e com a melhor das intenções, logo, se mesmo assim não agradar, estarei de consciência tranquila.

Desde muito cedo percebi e defendo que devo avaliar os outros pela forma como são comigo, como me tratam e fazem sentir, e não por aquilo que me dizem deles. Devemos formar a nossa própria opinião de acordo com a relação que construímos com essa pessoa.

Posso afirmar também que não deve haver orgulho para amar e perdoar. Costumo dizer que o orgulho morre solitário e arrependido.

Também tenho chegado à conclusão que é melhor ter paz de espírito do que razão em determinadas situações e que não vale a pena por vezes lutarmos por certas batalhas, por mais razão que tenhamos. Em nome da razão, mas baseados na emoção, entramos muitas vezes em desafios que não valem a pena. 

Confesso que nem sempre consigo adotar esta mentalidade porque tenho um sentido de justiça muito apurado e sou uma lutadora nata das causas que defendo. Depende da situação, da relação e da fase da vida em que me encontro.

Nos casos em que concluo que não vale a pena, fico com a esperança que a própria vida mostre o lado certo ao lado errado.

Outra coisa que aprendi é que quando sabemos quem somos e temos noção de que agimos sempre com dignidade, não temos que provar nada a ninguém, mesmo que os outros nos “pintem” uma pessoa diferente da que somos na realidade. Os “nossos” têm o dever de conhecer a nossa essência, e quem não nos conhece bem e julga mal, não carece da nossa preocupação.

Não há nada mais libertador do que vivermos sem a necessidade de provar nada, sentindo-nos verdadeiros, donos das próprias decisões, sem receio de julgamentos e mais felizes.

E muito mais tenho aprendido e afirmado ao longo da minha vida. Mais exemplos podia dar.

Estou ciente que os valores que tenho adquirido durante a minha vivência, para além dos transmitidos pelos meus pais, determinam a maneira como conduzo a minha vida como uma bússola interior. Estarão sempre por detrás das minhas ações. E uma das minhas missões é passar os melhores valores aos meus filhos para mais facilmente ultrapassarem as adversidades e viverem uma vida saudável e harmoniosa. 

Foram 42 anos de muitas experiências, aprendizagens, erros, acertos, tentativas, frustrações, alegrias, tristezas, crescimento pessoal e profissional, mas tudo isso me fez ser quem sou.

O que hoje tenho de melhor? Sem dúvida, a família maravilhosa que construí, os meus queridos filhos.

Espero viver muitos anos, uma vez que já não fui mãe cedo, para poder acompanhar, mimar e apoiar os meus filhos o máximo de tempo possível. Quero vê-los crescer, amadurecer e essencialmente a serem felizes!

Independentemente do tempo que eu viva, eles viverão eternamente no meu coração e estou certa que eu no deles também! ❤❤